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Design de
Rossana Fischer
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21.6.03
Alguém leu "Matrix" é contra o homem e a favor da máquina de Jabor, no Segundo Caderno de O Globo, de 17 / 06? De tudo que li sobre Matrix foi o que mais me calou no espírito. Acho que ele pegou essência da coisa em si.
"Matrix é um sintoma: finge denunciar uma desumanização da vida para, com este pretexto, propalar justamente a beleza fria de uma desumanização em curso há muito tempo."
E continua mais adiante: Matrix finge ser contra a máquina fazendo a apologia dela o tempo todo: finge ser contra a aridez da automação, mas está ali para vender computadores. Os personagens principais não são as pessoas; são as Coisas, os carros em duelo, helicópteros, os lasers, os supercomputadores, os infinitos gadgets de um mundo da ciência que formam um gigantesco showroom de utilidades tecnológicas."
Diz mais:"Ali, não há drama, pois o desejo dos produtores é justamente fazer o apagamento do drama humano em nossas cabeças. A ação na tela é incessante, de modo a nos paralisar na vida; o conflito é permanente, de modo a privar o espestador de ver seus conflitos reais".
E mais: "O filme vende a perversão como afeto, a coolness total como modo moderno de ser: rostos impassíveis, competências velozes, capas negras, óculos impessoais, tudo num clima de superdesfile de moda, com uma elegância cruel, com ressonâncias punk, ecos do que seria um comportamento revolucionário. O filme finge ser uma crítica à modernidade capitalista, justamente para afirmá-la.
Não há sangue, apesar das muitas mortes. Antes, os filmes violentos trabalhavam em cima de nosa fome de morbidez e sadismo sangrento. Agora, é o prazer da eficiência em eliminar inimigos ou competidores, como num boliche.. A morte não é mais banalizada nesses filmes, como nos anos 80. Agora não há propriamente morte, mas a substituição de peças, re-fill ,
reabastecimento. Os heróis não vencem porque têm um ideal mais justo; vencem por mais competência."
A poucos passos da conclusão, o cronista defende: "Filmes como Matrix mostram que surgiu uma nova mercadoria: a liberdade. A América Corporativa se apossou da transgressão e fetichizou-a também. Este é o supremo simulacro. Tomando conta da liberdade e programando-a como um bem de consumo, a repressão se perpetua."
E, finalmente, comenta: "Quanta coisa maravilhosa a América já nos deu - dos Boeings aos antibióticos, a música, o cinema, tantas coisas... Mas, hoje, o que nos dá, além da arrogância de potência única? Haverá espaço para uma reação da verdadeira democracia americana?"
Achei esplêndida a crítica, oportuna, ferindo fundo o ponto nevrálgico da questão - o lento esgotamento da sociedade e a dúvida quanto à reação efetiva do homem. Do ponto de vista antropológico, só há dois caminhos: ou a sociedade se extingue, desaparece ou reage e ressurge de suas próprias cinzas.
Vou ficar por aqui. hoje, vou ficar devendo a poesia que pagarei em dobro, assim que puder.
Bom fim de semana pra todos.
publicado
por Magaly Magalhães às 1:13 AM
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