Divulgar idéias próprias, combater o discurso invertido corrente, aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
 

online


envie-me um



Links:

Imagens e Palavras
Sub Rosa v.2
Meg
Xico
Cora Ronai
Flavia
Divagando
Carminha
Subrosa
Claudio Rubio
Lou
Laurinha
Matusca
Suely
Claudia Letti
Aninha Pontes
Valter Ferraz
Telinha
Giniki
Teruska
Helo
Fal
Dudi
Fer
Lord Broken Pottery
Nelson da praia
Marco
Arquimimo
Angela Scott
Dauro
Bia Badaud
Angela do Mexico
Andre Machado
Aurea Gouvea
Ruth Mezeck
Ronize Aline
Ane Aguirre
Elis Monteiro
Cath
Wumanity
Telhado de Vidro
Beth
Milton Ribeiro
Stella
Veronica
Renata
Lucia
Thata
Zadig
Lamenha
annemsens
Cesar Miranda
Paulo Jose Miranda
Eiichi
Li Stoducto Stella Ramos Santos





Arquivos
junho 2002
julho 2002
agosto 2002
setembro 2002
outubro 2002
novembro 2002
dezembro 2002
janeiro 2003
fevereiro 2003
março 2003
abril 2003
maio 2003
junho 2003
julho 2003
agosto 2003
setembro 2003
outubro 2003
novembro 2003
dezembro 2003
janeiro 2004
fevereiro 2004
março 2004
abril 2004
maio 2004
junho 2004
julho 2004
agosto 2004
setembro 2004
outubro 2004
dezembro 2004
janeiro 2005
fevereiro 2005
março 2005
abril 2005
maio 2005
junho 2005
julho 2005
agosto 2005
setembro 2005
outubro 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
abril 2006
maio 2006
junho 2006
julho 2006
agosto 2006
setembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007




Design de
Rossana Fischer










30.10.03
 
Pardal, Pardal, gritava a meninada naquele trecho de rua, no Grajaú. Pipa empinada, correndo célere, quase voando com a pipa, aquele menino magro, pequeno para a idade, sentia-se triunfante em seu ambiente predileto.
Difícil era manter o ritmo acelerado com que impunha não digo uma liderança de grupo, mas um lugar importante naquela minidemocracia que era a molecada do bairro.
Se a palavra de ordem era futebol, ele vibrava representando o seu time do coração - o Botafogo, com igual entusiasmo, por um bom final de partida.
Era o direito a essa alegria infantil sem fronteiras que ele exercia como se quisesse perpetuar aquela fase de sua vida.
Os deveres da escola ele sabia que teria que fazer nem que fosse de madrugada. A vigilância materna, frustrada a cada chamamento no portão de casa, o que se estendia pela tarde afora, dava-lhe a certeza de que teria que abrir um tempo para cumprir os trabalhos escolares.
Nesta mágica atmosfera infantil, de vôos cada vez mais ousados, Pardal passou os melhores anos de sua vida e plasmou seu generoso perfil.
Homem feito, esses quadros de memória da infância sempre vinham à baila, em animadas reuniões familiares.
Certa vez, já crescidinho, quando o Botafogo dava sinais de queda de posição em relação aos times mais expressivos, ele se voltou para o pai e perguntou:
- Posso mudar de time, papai?
A autocensura se antecipou e ele se apressou em lançar solene sua decisão:
- Deixe pra lá, o Botafogo foi minha escolha pra vida inteira.
Ele já era a criatura simples e boa, autêntica, leal e verdadeira, marcas de caráter que levou, buriladas, para a vida adulta, tragicamente interrompida.
Que saudades, Estevão!


Inevitável! Relevem o desabafo, as lembranças que se intrometem impunemente.

Flavinha, dá pra você produzir um pardal pra mim?

Fico devendo a imagem. Só um pardal entraria bem aqui. Até mais.


publicado por Magaly Magalhães às 10:35 PM
24.10.03
 
Trago aqui hoje, à revelia do companheiro Dudi Maia Rosa, um de seus trabalhos. Quero homenageá-lo. A mensagem que me enviou sobre o passamento de meu filho me deixou comovida. O verde de sua obra é a esperança de minha paz interna.


Eu, pensando...
A palavra de ordem agora é vida normal - assuntos correntes a comentar, histórias novas a contar ou histórias velhas a resgatar, acontecimentos inesperados, situações inusitadas, assuntos da vida comum, nossos medos, a banalização da violência, o nosso tédio diante das dificuldades de reação a esse estado de coisas.

Jabor, na crônica de terça-feira de O Globo, Segundo Caderno, é que fez o alerta certo: ´Tinha de haver um grande movimento de denúncia e combate da sordidez da indústria cultural, da exploração das superstições, dos horrores culturais que vemos nas televisões. Como? não sei; mas não podemos continuar aceitando tudo, num conformismo cínico e individualista.´


Hum! estão mais bonitos do que nunca os três movimentos de ´Patética´, a sonata
nº 8 em dó menor, op. 13, de Beethoven. Sou fascinada por esta sonata como também por ´Appassionata´, nº 23, em fá menor, op.57. Não sei definir qual a mais
vibrante. No piano de Arthur Moreira Lima. Meu instrumento predileto - o piano.
Quem me vê falar assim, pensa que entendo de música. Amo, adoro ouvir música, mas é tudo. Só sei que minha alma fica leve e consigo enxergar o lado positivo das coisas da vida. A boa música é um sopro divino.


Resgatando Manuel Bandeira, deixo vocês hoje com

´O GRILO´

Grilo, toca aí um som de flauta.
- De flauta? Você me acha com cara de flautista?
- A flauta é um belo instrumento, não gosta?
- Troppo dolce!

publicado por Magaly Magalhães às 1:11 AM

 
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE!

Não posso mais me permitir tantos deslizes. Já quebrei xícara de porcelana, prato fundo novo (de diário), meu vidro de pimenta malagueta e de cheiro (preparado em Fortaleza!), esqueci de colocar imagem no antepenúltimo post, falhei na colocação da imagem no último post e, agora, a homenagem que quis prestar ao Dudi ficou desfigurada porque a imagem ficou a quilômetros do trecho no qual eu me refiro ao ´Verdinho-aguillar´.
Desculpem-me amigos, e, em particular, o Dudi. Vocês vão ter que rodar meia barra de rolagem ou mais para encontrar o significativo trabalho do artista homenageado.
Estou pondo isso ainda na conta do desajuste sofrido há pouco, mas podem desconfiar que sou mesmo uma blogueira expressivamente trapalhona.

Vocês viram que já tomei a deliberação de voltar à vida normal.
Tenho dito.


publicado por Magaly Magalhães às 12:49 AM
23.10.03
 

publicado por Magaly Magalhães às 10:50 PM
21.10.03
 


Meus queridos visitantes, que bonito papel vocês têm cumprido na tentativa de me reerguer o ânimo com palavras dóceis, palavras de fé, conselhos, conferindo-me uma assistência que eu não sonhara merecer! Ainda ontem, Ofélia, com a propriedade que lhe é habitual, trouxe-me este poema divino de Carlos Drummond de Andrade:

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém mais a rouba de mim.


Eu, pensando...
Depois de tanto viver, eu me sinto estranha a mim mesma. Os grandes choques costumam produzir reações inesperadas. Não me entrego a acessos de desespero
ou a lamentações descabidas. A fé me sustenta e os amigos me consolam, mas é estranho... Não estou me superando num ponto - não estou suportando a falta física. É muito difícil, fraquejo de vez em quando. Drummond apontou o caminho. Vou tentar pensar a ausência e assumi-la, assimilá-la, acomodá-la no peito... e viver.


Ofélia, viu como você atacou o ponto nevrálgico? Eu lhe prometo que logo terei transfigurado a falta em ausência assimilada e me sentirei praticamente inteira. Obrigada, amiga.


Não posso encerrar este post sem deixar com vocês a delicadeza destes versos de Cecília Meireles lidos hoje, pela manhã, ao som da Sonata nº2 para piano de Chopin.

VELHO ESTILO

Coisa que passas, como é teu nome?
De que inconstâncias foste gerada?
Abri meus braços para alcançar-te?
fechei meus braços - não tinha nada

De ti só resta o que se consome.
Vais para a morte? Vais para a vida?
Tua presença nalguma parte
é já sinal da tua partida.

E eu disse a todos desse teu fado,
para esquecerem teu chamamento,
saberem que eras constituída
da errante essência da água e do vento.

Todos quiseram ter-te, malgrado
prenúncios tantos, tantas ameaças.
Grande, adorada desconhecida,
como é teu nome, coisa que passas?

Pisando terras e firmamento,
com um ar de exausta gente dormida,
abandonaram termos tranqüilos,
portas abertas, áreas de vida.

E eu, que anunciei o acontecimento,
fui atrás deles, com insegurança,
dizendo que ia por dissuadi-los,
mas tendo a sua mesma esperança.

No ardente nível desta experiência,
sem rogo, lágrima nem protesto,
tudo se apaga, preso em sigilos:
mas no desenho do último gesto,

há mãos de amor para a tua ausência.
E esse é o vestígio que não se some:
resto de todos, teu próprio resto.
- Coisa que passas, como é o teu nome?


Uma grata noite para todos.

publicado por Magaly Magalhães às 11:32 PM
16.10.03
 
Eu, pensando...

Será que consigo? PENSAR, sem que eu o queira, é, no momento, sinônimo de FUGIR.
Que eu fuja, então, que fuja para os blogs amigos, pra visitá-los, pra buscar informações que me reatem aos fatos correntes, que me digam que ainda sou capaz
de sentir, de rir, de viver com graça, de praticar atos úteis desvinculados da idéia de obrigatórios, em poucas palavras, de sentir-me gente outra vez.

Esta é a minha intenção declarada. Sabem que acontece mal acabo de pensar esta declaração? Ouço, como um estribilho, a quadra de Fernando Pessoa:

´Não mais, não mais, e desde que saíste
Desta prisão fechada que é o mundo,
Meu coração é inerte e infecundo
E o que sou é um sonho que está triste.´

REAGIR, REAGIR, REAGIR - eis a questão!

E vamos, sim, ajudem-me!


Vamos ao saudoso cronista Rubem Braga, mestre em tirar de fatos cotidianos uma considerável carga lírica e humana produzindo registros realmente poéticos em linguagem coloquial e comunicativa.

RECADO AO SENHOR 903

Vizinho - Quem fala aqui é o vizinho do 1003. Recebi, outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava do barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se o não fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor, é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita, pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 - que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45 e explicarei: O 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua em que ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - prometo silêncio...
...mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta de outro e dissesse: ´Vizinho, são 3 horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.´ E o outro respondesse: ´Entra, vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho! Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a
vida é curta e a vida é bela´.
E o homem trouxesse sua mulher e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

(in 200 Crônicas escolhidas. Rio de Janeiro, Record, 1977, p. 178-179)


Meu boa-noite a todos. Até outra hora.


publicado por Magaly Magalhães às 12:34 AM
8.10.03
 

publicado por Magaly Magalhães às 6:29 PM

 
Amigos, estou aqui, tentando timidamente reatar nossas conversas, nossos encontros nos comentários. Alma esvaziada, a espontaneidade sumiu, o verbo parece emperrado, as palavras se fazem difíceis. Mas não vim aqui pra expor minha fragilidade a vocês que me cercaram de tanto carinho e amparo.
Sei que a vida continua com todos os seus altos e baixos para todos os viventes, como que para arrastar os já golpeados, numa grande demonstração de reinvenção do ato de viver. Além do mais, se me fosse dado falar com Estêvão, tenho certeza de que estaria avidamente cobrando, com a exuberância que lhe era típica, o post novo, a notícia da vez, a ´piadinha inocente´, o poema de amor rasgado, o bom cordel nordestino... Ele era assim... Alegre, espontâneo, musical, sensível, botafoguense exarcebado, barulhento por natureza quando queria alegrar a galera em torno dele. Mas centrado, silencioso, correto na hora de decidir as coisas sérias da vida.
É... Não há nada a fazer, a não ser sublimar o que nos pesa e maltrata, resgatar e guardar com carinho as lembranças boas e ternas e isto podemos fazer de mil maneiras
A poesia é sempre um ótimo derivativo, sempre foi minha fonte de consolo e inspiração. E Mário Faustino (alô, alô, Meguinha!) soube como ninguém lidar com a morte em seus incontáveis versos que tão bem couberam numa ´meia vida´ ainda mais curta e com morte tão violenta quanto a do meu Estêvão.


EGO DE MONA KATEUDO

Dor, dor de minha alma, é madrugada
E aportam-me lembranças de quem amo.
E dobram sonhos na mal-estrelada
Memória arfante donde alguém que chamo
Para outros braços cardiais me nega
Restos de rosa entre lençóis de olvido.
Ao longe ladra um coração na cega
Noite ambulante. E escuto-te o mugido,
Oh vento que meu cérebro aleitaste,
Tempo que meu destino ruminaste.
Amor, amor, enquanto luzes, puro,
Dormido e claro, eu velo em vasto escuro,
Ouvindo as asas roucas de outro dia
Cantar sem despertar minha alegria.


SONETO

Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler

À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.


´Poesia de Mário Faustino´ - Coleção Poesia Hoje / de Moacyr Félix

publicado por Magaly Magalhães às 6:18 PM