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Design de
Rossana Fischer
|
21.11.03
Vocês todos estão lembrados do recente concurso literário, lançado em agosto pelo SubRosa, o blog da Meg - Concurso Narrativas Breves Haroldo Maranhão.
Quem quiser rever as informações sobre o evento é só clicar no banner do Concurso encontrado aqui..
O resultado já foi divulgado, com três finalistas premiados mais dois prêmios de menção honrosa. Esses finalistas foram escolhidos de um grupo de 30 selecionados como melhores.
Os premiados já foram publicados, na página do SubRosa dedicada às notícias do concurso (link acima citado).
A surpresa é que vamos publicar agora os finalistas não premiados.
Meg criou uma página para este fim - Imagens e Palavras - e já estão lá os três textos com que concorreu a nossa conhecida e apreciada Terusca, do Confiteor, com direito a comentários, onde o leitor pode fazer sua análise das narrativas apresentadas. Vamos a elas:
3 contos de Irina Kowalski
TANTO TEMPO
Às vezes o seu olhar me surpreende e me esvazia de tudo que sou. E não deixa
nada em mim. Só um abismo onde caio devagar, sem fim. E me vira as costas e
anda naturalmente para um tempo em que não existo. Quero o impossível, sim,
sair por aí, como se possível fosse, sem medo e sem rancor, sem nada. Só
sair e não voltar. Longe de você que me aniquila e me tortura, tão levemente
me tortura que penso que nem existo. Se a minha alma pudesse ir comigo. Mas
não pode. Ela vai ficar aqui, com seu silêncio e vou por aí sem alma, com os
sapatos apertados por tanto tempo, desconfortável, cansada, com vontade de
voltar e e sem querer. Sem querer não vou, e fico querendo ir, em silêncio,
com todas as palavras ditas, idiotas.Tenho preguiça de dizer que te odeio,
uma preguiça danada. Não adianta mais. Nem meu magnífico ódio serve para
coisa alguma. Nem mesmo para me jogar pela porta e andar para lugar nenhum.
Por onde eu fosse jamais te alcançaria e nem me importa.Só quero estar só,
definitivamente só, aqui, como se você não existisse. E eu me vejo então, no
espelho, nesse maldito espelho que nunca refletiu nada. E vivo enfim, uma
vida que é minha, onde não existe você. Mas essa gosma que me acompanha,
que se arrasta atrás de mim, como se meus pés se derretessem à medida que
caminho é o meu passado, às vezes como uma cauda de vestido de noiva,
outras, pesado como o vestido de luto das viúvas. Mas é o meu passado e eu
não me dispo dele, mesmo que queira. E você, desfeito como eu bem queria, só que não tanto atrás, mas do lado, grudado, como uma flor na lapela.
SEM TRÉGUA
Quando a companhia soou todo mundo se entreolhou com uma espécie de agonia.
Há dez anos não se ouvia este som. Eu me perguntava como aquele mecanismo
ainda reagia depois de tanto tempo. -Um cliente! - sussurrou o Sr. X ,
visivelmente agitado. A sra. F. levantou-se com a mesma antiga formalidade
de 10 anos atrás e abriu a porta. Todos os olhos presos no vão escuro. Até
G. parou de recortar jornais e, meio corpo fora da cozinha, arregalava os
olhos. - A guerra acabou.
A figura que anunciava o fim da guerra não esperou nenhuma manifestação e
disparou escada acima. A Sra. F. fechou a porta devagar e repetiu, meio
aturdida. - A guerra acabou.T. reinventou uma estúpida alegria e gritou
tentando abraçar todo mundo:- A guerra acabou. Estamos livres!
O Sr. X. suava, os olhos perdidos, muitos abertos, como os de um
enforcado. Demorei muito tempo arrumando minhas coisas, meus papéis, como se
isso fosse muito importante. Quando, enfim, terminei, estavam todos parados
diante da porta fechada. O Sr. X., com os braços abertos, impedia a
passagem. Tinha os olhos empapuçados de tanto chorar.
- Livres de quê? Livres para quê? Continuem o que estavam fazendo. A guerra
não acabou.
Aliviada, voltei lentamente para a minha sala e fui colocando tudo novamente
onde deveria estar.
PEDRAS
De tanto ardor, queimei a alma e tudo o que ficou nem foram cinzas: - estas
eu espalhei ao vento de uma tarde que não me lembro - foram pedras.
Cascalhos pequenos e duros que juntei aos poucos para quê não sei. Se tudo
desse um coração, mas não dá. Recompor e me queimar de novo, incendiando, o
velho ardil de começar uma mentira cínica como uma verdade, não quero. Quero
voltar onde parei, antes de ter colecionado as pedras, e começar onde morri.
Não quero o cheiro de velas e flores de um velório onde todo mundo se
diverte, inclusive eu. Quero a solenidade daquele ponto, onde deixei os
olhos cravados no chão, e o coração em pedaços, cascalhos que guardei nos
bolsos para que um dia, se precisasse dele, tê-lo de volta, como pedra. A
intenção foi esta, sim, confesso. Mas não deu. Há um pequeno ponto indeciso
de um incêndio. Uma distraída lufada de vento e estou perdida novamente. De
que me serve tecer com tanta fúria o meu destino, com tanta certeza os meus
descasos, se sou tão distraída que me esqueço do meu coração de pedra? Mas
tu podes também te queimar neste incêndio, e depois cravar os olhos no chão
e recolher pedaços de pedra para te consolar no resto da vida. Seremos dois,
uma única vez seremos dois com os bolsos cheios de cascalhos inúteis.
A você que está lendo:
Peço que fique à vontade pra ler e comentar estes 3 textos.
Qual deles você mais gosta? Qyal o que menos gosta?
Numa escala de 1 a 5, que nota você atribui a cada um?
Todos os comentários serão respondidos, pela autora.
Obrigada.
Postado por Meg Guimarães 04 nov 2003 @ 01:53 | Comentários (37) | TrackBack (0)
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Não é uma idéia e tanto?
publicado
por Magaly Magalhães às 12:10 AM
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