The Dance
Oil Painting - Henry Matisse
Quem não conhece a bela e ingênua música de JAYME OVALLE?
Ovalle "é o poeta em estado virgem. A mais bela crisálida de poesia que jamais existiu desde William Blake. É o mistério poético em toda a sua inocência, em toda a sua beleza natural. É vôo, é transcendência absoluta. É amor em estado de graça." (Sabino, Fernando. Fragmentos de uma suíte ovalliana. Jornal do Brasil., 15.07.1974.)
É dele a música que atravessou fronteiras e teve na voz de Bidu Sayão sua interpretação mais expressiva:
AZULÃO
Jayme Ovalle e Manoel Bandeira
Vai azulão, azulão
Companheiro, vai
Vai ver minha ingrata
Diz que sem ela
O sertão não é mais sertão
Ai, voa azulão
Vai contar companheiro, vai
Ovalle era uma personalidade singular. Suas conversas distinguiam-se pelo humor, pela poesia e pela religiosidade. Seu lado místico causava espécie a seus amigos, pois ele assegurava que conversava com os anjos. De fato, era comum vê-lo aos brados a discutir com seu anjo da guarda.
Ovalle lançou mão de temas religiosos e folclóricos para compor Berimbau, Três pontos de Santo, Chariô, Aruanda e Estrela do Mar.
A obra Azulão trouxe-lhe grande notoriedade. Inspirado no poema de Manuel Bandeira, Ovalle compôs esta canção em que melodia e letra refletem um lirismo acentuadamente brasileiro.
Bidu Sayão divulgou a canção nos Estados Unidos e na Europa, alcançando enorme popularidade.
Jayme Ovalle nasceu no dia 5 de agosto de 1894, em Belém do Pará, tendo fixado residência no Rio de Janeiro em 1914.
Costumava dizer:"Nasci no Pará, mas sou carioca, ou seja, um sujeito nascido no Espírito Santo ou em Belém do Pará, ou em Campina Grande." (O Estado de São Paulo. A música de Jayme Ovalle. 14.09.1980,p 11.).
Jayme Ovalle faleceu no dia 9 de setembro de 1955, no Rio de Janeiro
"Que um dia afinal seremos vizinhos
Conversaremos longamente
De sepultura a sepultura
No silêncio das madrugadas
Quando o orvalho pingar sem ruído
E o luar for uma coisa só."
(De Manuel Bandeira para Jayme Ovalle)
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Tocada pela cândida melodia de Azulão, sobreveio-me a saudade das cantigas de roda de minha infância. Lembrei-me de que tenho o CD das 16 cirandas, de Villa-Lobos, executadas pelo eloqüente pianista Arthur Moreira Lima. Estou agora a me deleitar com tão saborosas melodias e não vou me furtar ao prazer de mandá-las pra vocês, pelo menos aquelas de que mais gosto:
O Cravo e a Rosa
O Cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O Cravo ficou ferido
E a Rosa despedaçada
O Cravo ficou doente
A Rosa foi visitar
O Cravo teve um desmaio
A Rosa pôs-se a chorar
Peixe Vivo
Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria
Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Os pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria
Por me verem assim chorando
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Nesta Rua
Nesta rua, nesta rua, tem um bosque
Que se chama, que se chama Solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque tu roubaste o meu também
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque eu te quero tanto bem
Se esta rua, se esta rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
Para o meu, para o meu amor passar.
Este post é dedicado à nossa companheira Meg , conterrânea de Jayme Ovalle, e, certamente apreciadora das melodiosas cantigas de roda.