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E AGORA, JOÃO? de Gustavo Rosa
Antes de pensar num tema para hoje, quero chamar a atenção de meus leitores para o apelo partido de nossa companheira Fal, em favor de uma família que teve seus bens roubados no curso de um vil assalto. Toda a história , vocês podem ler clicando no selo Rifa Literária, à esquerda (logo abaixo do selo F&C), onde vocês encontrarão o procedimento para participar da rifa. E olhem que os objetos a serem rifados são sedutores!
Agora, vamos à matéria de hoje. Longe do carnaval, aqui, no meu cantinho, onde meu pensamento voa livre e volta, torna a voar e retorna ao ponto de partida, às vezes, eu converso comigo mesma sobre esses alheamentos na vida da gente, períodos de estagnação em que nada se consegue fazer de objetivo, em que até pensar é um fardo pesado demais.
Ando num desses estágios. Luto para sair dele o mais rápido possível. São dias neutros, anêmicos, sem cor. E com tanta coisa a ser projetada, tanta leitura a ser posta em dia, tantos apelos, como o que acabei de relatar acima, que nos mobilizam, que exigem ação e espírito de solidariedade.
Não, não vão na minha conversa. Já vai passar.
Pronto. Passou. Ora, tinha que passar, pois sabem o que tenho em minhas mãos? O livro em que Mário Prata nos dá suas versões sobre a origem de vários provérbios e certos ditos populares brasileiros.
Vejamos:
A mentira tem pernas curtas = descobrem logo quando a gente mente.
Esta expressão nos vem de Paris, no final do século antepassado.
Henri Toulouse Lautrec, pintor francês, era famoso pelas histórias que contava nos bares parisienses de Pigalle, entre uma litografia e outra. Dizem as resenhas da época que mentia tão bem quanto pintava cartazes de shows. Como todos sabem, Lautrec tinha um defeito físico: pernas curtas.
Desculpa de aleijado é muleta = desculpa fajuta.
Em Sevilha, em 1878, um dos maiores toureiros da Espanha, Carmelito Gonzáles y Gonzáles, El Rompedor, quase morreu ao ser atacado por um miúra bravíssimo e ficou aleijado para o resto da vida. E punha a culpa na muleta, que havia quebrado. Muleta é aquela vara com que o toureiro suspende a capa para atiçar o touro. A partir daí, passou a usar outro tipo de muleta e a expressão ficou conhecida.
Guardar a sete chaves = guardar muito bem guardado, praticamente, esconder.
Chaves era o subordinado do Chalaça. Chalaça ficava responsável pela agenda do imperador, que era reservadíssima. Tinha que ficar muito bem escondida. E todo dia, quando terminava o expediente no palácio, lá pelas sete da noite, Chalaça sempre lembrava ao Chaves: *Guardar às sete, Chaves.*.
(Fonte: Roberto Torero em seu maravilhoso livro sobre Chalaça, pela Companhia das Letras).
Do livro MAS SERÁ O BENEDITO? de Mário Prata.
Pra não dizerem que descartei o poema nosso de cada dia:
SE NÃO FOSSE, SERIA
Se eu fosse uma cor, vermelha
uma flor, tulipa
um bicho, à espreita
Se eu fosse uma música, sem dó
um sabor, hortelã
um livro, interminável
uma fruta, madura
Se eu fosse uma estrada, sem fim
uma estrela, cadente...
Claudia Letti, do livro Onde não se responde
Finalmente, para não reclamarem que passei por cima do Carnaval, transcrevo aqui uma mensagem que me mandou o amigo Cláudio Rúbio. Muito oportuna, muito bem arquitetada, o garoto é bom! Isso é Carnaval!
Post-Enredo da Unidos da Blogosfera.
+ O que deve existir num poema para que seja seu?
+ Ah, o trabalho que dá...
+ Enquanto a inspiração não vem
+ lepidópteras vermelhas sobrevoam as suas asas líricas:
+ partir...
+ acreditando que está sendo batizado com água do Rio Jordão
+ (Cumequié?)
+ Ninguém se salva
+ mas hoje em dia corro o risco de encontrar
+ Um moedor de chilreios
+ E doidivanas e quixotescos, em pândega e desengonçados
+ Gente dos nossos dias. As suas alegrias e tristezas,
+ as suas fúrias e valores. (Enchamos tudo de futuros!)
+ Que é feito dos romances que nós desejávamos
+ que ainda fossem mais longos?
+ Há ciclos, não há razões.
+ O problema é que o indesmentível fracasso
+ do iluminismo, que o holocausto representa,
+ não reabilita as ideologias por ele vencidas,
+ nem se vislumbra uma alternativa.
+ Antes dos portugueses descobrirem o Brasil,
+ o Brasil tinha descoberto a felicidade.
+ Será que verei paz ainda nessa vida?
+ quando as noites fugirem e o sol trouxer luz eterna
+ como se fosse Diana a caçar meus mitos e castrá-los
+ criando seu próprio cenário
+ ao qual as pessoas são atraídas no final
+ No deserto que deixamos
+ você aprende a garimpar alegrias insuspeitadas
+ "As sombras são a minha máscara nas ruas estreitas"
+ Alma canta, samba e desafina?
+ Descobri que sou forte nos outros, e frágil em mim mesmo
+ eu chorei sofri as duras dores da humilhação
+ Ah, a estupidez...
+ nem conhece a sombra nem a evita.
+ Escreve aí no teu caderno: o poeta não vai para o inferno
+ Quero me afogar em serpentinas
+ Quero ser ninguém na multidão.
+ Isso sim é um domingão de carnaval.
(Clique em cada "+" para conhecer os autores de cada verso e seus contextos originais.)
06 Feb 2005 17:55
by claudinho
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