Divulgar idéias próprias, combater o discurso invertido corrente, aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
 

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10.6.05
 


Sinto hoje que meu bem-estar está comprometido apontando difusamente para diversas causas. Não é acesso de baixa-estima; é auto-estima ameaçada, agredida pelos estremeções com que a nossa política, sempre inoperante, faz a gente descrer que vive no seio de uma democracia.
Não sei se vocês já notaram que eu me escuso de tocar em assuntos de ordem política pelo meu despreparo natural. Não me sinto bem em emitir opiniões sem embasamento ou sem parâmetros onde me apóie. E nunca tive curiosidade maior nessa área. Acontece que, se desconheço as artimanhas políticas, posso sentir na pele os seus efeitos.
Abro o jornal de manhã, decepção! Atualmente é o Mensalão, a CPI dos Correios,a desmoralização de serviços importantes para o país como a preservação da Floresta Amazônica e que tais. Uma enumeração é serviço penoso e irritante; qualquer ponta de tapete levantada exibe um sem número de coisas ilícitas. E os responsáveis vivem sua vida adamascada sem maiores remorsos.
Gente! A democracia está doente! Precisa de socorro, de antibiótico, de higiene
Precisamos achar um jeito de cuidar dela antes que seja tarde. A responsabilidade é de todos, cada um fazendo, dentro de seu raio de ação, o que é possível para reabilitar os valores éticos e morais: dentro da família, dentro das comunidades, dentro dos organismos sociais.

Para infernizar mais a paciência, vem a Argentina e pisa e repisa e sapateia na bola brasileira. Não agüento. Não dá para agüentar meeesmo!

Sabem de uma coisa? Vou tirar da manga um recurso *tiro e baque*. Vocês já devem ter percebido que, pra mim, fora da poesia não há salvação. Convido-os, então, a declamar com o nosso poeta Ferreira Gullar, que entende dessas coisas mal repartidas, este significativo poema:


Dois e dois: quatro

Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.

Como teus olhos são claros
e a tua pele morena.

Como é azul o oceano
e a lagoa, serena.

Como um tempo de alegria
por trás do terror me acena.

e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena

Sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena

mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.



E como daqui a três dias é Dia dos Namorados, um poema de amor (para adoçar a pílula), de nada mais, nada menos que o poeta Carlos Drummond de Andrade:

As Sem-Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

De CORPO / Record / RJ

Feliz Dia dos Namorados! Amor, muito amor e felicidades!



UPDATE: Homenageando o poeta Fernando Pessoa na data de seu aniversário.

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só as que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.


E VIVA! para Santo Antônio de Pádua que 13 de junho é o seu dia também!

publicado por Magaly Magalhães às 10:57 PM
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