

Por
Sérgio Fonseca
TEMPO E ARTISTA
Imagino o artista num anfiteatro
Onde o tempo é a grande estrela
Vejo o tempo obrar a sua arte
Tendo o mesmo artista como tela
Modelando o artista ao seu feitio
O tempo, com seu lápis impreciso
Põe-lhe rugas ao redor da boca
Como contrapesos de um sorriso
Já vestindo a pele do artista
O tempo arrebata-lhe a garganta
O velho cantor subindo ao palco
Apenas abre a voz, e o tempo canta
Dança o tempo sem cessar, montando
O dorso do exausto bailarino
Trêmulo, o ator recita um drama
Que ainda está por ser escrito
No anfiteatro, sob o céu de estrelas
Um concerto eu imagino
Onde, num relance, o tempo alcance a glória
E o artista, o infinito
Chico Buarque
Só podia ser Chico. Com que classe ele trata o tema, com que carga de sensibilidade ele filtra as emoções.
Encontrada no blog
Papel de Pão, de Sérgio Fonseca Aliás, vale a pena conferir o ensaio que ele escreveu sobre o show do Chico no Canecão, as fotos, sim, as fotos de todo o desenrolar do show, referências à vida, obra, textos, apresentações do artista, tudo apresentado com muito gosto e propriedade. É, Sérgio, este misto de poeta, cronista, escritor, fotógrafo e blogueiro maior sabe como encantar a gente.
***
Uma contribuição da casa:
*O nada traz um todo de ausência ao todo da presença.*
Paulo José Miranda
De *A Tragédia Grega e o Primo Basílio* de Eça de Queirós
*das nichten dés Nichts*
O NADA
Penso no nada,
no nada heideggeriano -
a ausência em presença,
a ausência materializada
em tudo o que sentimos,
percebemos, sonhamos, apalpamos.
E me confundo...me sinto ruir...
O nada esgarça a vida,
toma todos os espaços, expande-se,
tumultua, intoxica, sufoca,
exerce ação apocalíptica,
neutraliza qualquer gesto ou ação.
Ao todo da presença instala
o todo da ausência e aponta
para o nada em que nos podemos tornar.
Estremeço, fraquejo... Reajo.
O nada tem a ver com abandono,
desprezo, desolação,
tristeza extrema..
fuga de si mesmo,
desespero.
Não, não pode atingir aqueles que possuem
Fé na razão de ser da Vida,
Fé inabalável
na perene Presença de um
Deus Vigilante
Onividente
Onisciente
Onipotente
14 / 11 /2006
Rio