Alex Vallauri Sem título Mista sobre papel
Compartilhando
Estou aqui, diante da tela, sem tempo de elaborar ou mesmo pesquisar um texto interessante para vocês, pacientes que têm sido com esta minha marcha lenta, de intervalos cada vez mais longos. Veio-me, então, uma idéia: quem sabe, vocês curtiriam uns poemas meus mais antiguinhos, talvez de uma época em que eu me cobrasse muito menos, o que pode desmerecer a qualidade, mas salvaguarda a espontaneidade.
Nunca escrevi nada com intenção de publicar, reunir em livro; era só pra consumo íntimo, pra família. E demorei a trazê-los pra cá. Com o tempo, a confiança na tolerância dos leitores foi-se estabelecendo e, a partir de certa altura, aos poucos, comecei a mostrá-los. Agora, restam esses mais antigos, mais ingênuos, anteriores às duas grandes perdas de membros da família que me abalaram sobremodo.
MEUS AMORES
São sete “figuras”
São sete azougues
Vocês vão gostar :
Meus sete amores
João vem primeiro
Único varão
Dos quatro pimpolhos
De uma estação
Helena e Lígia
Sucedem a João
Por último vem
Luísa – Ação !
Agora, atenção !
É a gata Laurinha
Que puxa a linha
Da outra estação
Quem segue atrás
Vocês não calculam
É o Bê, é a Duda
Tremendo cartaz !
Leninha é mestra
Na dança e no resto
Lígia, peça-chave
Em qualquer projeto
Luluca calcula
Bê traça e pinta
Dudinha desfila
Laurinha é artista
João pinta, disputa
Helena estuda
Liginha dirige
Com pulso e batuta
Laurinha se expressa
Bê fala o exato
Luluca observa
Dudinha quer palmas
“Coruja” não sou
Não pensem tão mal
São sete amores
De graça infernal !
1998 / Rio
CANTIGA TRISTE
Está tarde, está frio
Tão escuro, tão sombrio!
Quem vem afagar-me a testa?
Quem vem encher-me o vazio?
O vento geme lá fora
A chuva fria não pára
Meu coração também geme
geme baixinho e cala
Por que chora a natureza?
Por que o vento fustiga?
Tem coração o mundo?
Tem o vento o dom da intriga?
Como estou triste, eu choro
Não posso culpar ninguém
Nem a chuva, nem o vento
Nem o mundo, nem meu bem
Choro, porque estou triste
1998 / Rio
AMOR – AMANTE
É a hora da aurora
é a aurora do instante
que sutil se incorpora
ao tempo do amor-amante
É a hora da visão
é a visão do exato
poder do amor em ação
gerando vida num ato
Que paire sobre os amantes
a consciência dos passos
dados em febris instantes
Vida é termo sagrado
fruto de plano divino
Que se lhe dê fino trato ...
1999 / Rio
PARADOXO
Sou ( ... ) a soma dos descaminhos
a contradição em progressso
Afonso Romano de Sant´Anna
Somos...
a mão que guia
a voz que orienta
o ombro que acolhe
o gesto que atende
a força que estimula
a calma que embala
ou...
a mão que paralisa
a voz que adultera
o ombro que se esquiva
o gesto que ameaça
a força que corrompe
a calma que abala
Contradição humana!
Há caminhos
e muitos descaminhos
Somos o somatório dessas posturas
empenho em crescer
crescer sem desempenho
Humano, “demasiadamente humano”,
resgatando o filósofo
voltando ao poeta.
2.000 / Rio
Está de bom tamanho? Vou guardar os que faltam para outro dia de ‘hibernação’. Não me queiram menos bem por infligir-lhes esta minha inspiração canhestra. Prometo que o próximo post de poemas vai ser de poemas maiúsculos, como foi o caso do anterior.
Ih! Agora que me toquei! Sou louca! Logo em seguida a um expoente da Poesia Lusa!
Senilidade declarada. Mil perdões.