Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
Por onde anda a alegria que animava meus dias quer chovesse ou sol fizesse?
Onde está a cantoria que noite e dia embalava minha vida irriquieta?
Que é de teu ar de criança que a todos encantava? Que é do riso despregado que de teus lábios brotava? Que é do cheiro de homem que o teu corpo exalava? Que é de ti, meu filho? Que é de ti?
Já vão dois anos de falta, não cala a pergunta vã.
Desfaz-se meu peito em saudades...
14/09/03 a 14/09/05
Para Estêvão:
* O amor é o único sentimento que não admite nem passado nem futuro.*
Honoré de Balzac
publicado
por Magaly Magalhães às 10:37 AM
9.9.05 Falo de quem? Vocês descobrirão assim que eu começar a exibir os primeiros trechos tomados aleatoriamente de suas crônicas ou romances.
*Como seriam as coisas e as pessoas antes que lhes tivéssemos dado o sentido de nossa esperança e visão humanas? Devia ser terrível. Chovia, as coisas se ensopavam sozinhas e secavam. E depois ardiam ao sol e se crestavam em poeira. Sem dar ao mundo o nosso sentido humano, como me assusto. Tenho medo da chuva, quando a separo da cidade e dos guarda-chuvas abertos, e dos campos se embebendo de água.*
(*Sem Nosso Sentido Humano*, crônica publicada em 28.06.69. Loc.cit.)
*Minha alma humana é a única forma possível de eu não me chocar desastrosamente com a minha organização física, tão máquina perfeita esta é. Minha alma humana é, aliás, também o único modo como me é dado aceitar sem desatino a alma geral do mundo. A engrenagem não pode nem por um segundo falhar.*
(*Engrenagem*, crônica publicada e 28.06.69. Loc.cit)
*Eu acho que a diferença entre os doidos e o não-doido é que o não-doido não diz nem faz as coisas que o doido faz. É só essa.*
(*Clarice*. Entrevista com O Pasquim. Rio de Janeiro, 09.06.74)
*Que esforço eu faço para ser eu mesma. Luto contra uma maré de mim.*
*Não quero a complacência da desordem. E se sou líquida como é líquida o informe, antes sou gotas de mercúrio do termômetro quebrado, líquido metal que se faz círculo cheio de si e igual a si mesmo no centro e na superfície, prata que tromba e não derrama, liquidez sem umidade.*
(Apud Borelli, Olga. Clarice Lispector: Esboço para um possível retrato, pg 12.)
*Sou um objeto querido por Deus. E isso me faz nascerem flores no peito. Ele me criou igual ao que escrevi agora: ?sou um objeto querido por Deus? e ele gostou de me ter criado como eu gostei de ter criado a frase. E quanto mais espírito tiver o objeto humano mais Deus se satisfaz.. Lírios brancos encostados à nudez do peito. Lírios que eu ofereço e ao que está doendo em você..Pois nós somos seres e carentes. Mesmo porque certas coisas, se não forem dadas, fenecem.. Por exemplo, junto ao calor de meu corpo, as pétalas dos lírios se crestariam. É por isso que me dou à morte todos os dias. Morro e renasço. Inclusive eu já vivi a morte dos outros. Mas agora morro de embriaguês de vida. E bendigo o calor do corpo vivo que murcha lírios brancos. O querer, não mais movido pela esperança, aquieta-se e nada anseia. Meu futuro é a noite escura e eterna. Mas vibrando em elétrons, prótons, nêutrons, mésons, e para mais não sei, porém, que é no perdão que eu me acho. Eu serei a impalpável substância que nem lembrança do ano anterior substância tem.*
(Apud Borelli, Olga. Clarice Lispector: Esboço para um possível retrato, pp. 61 a 62)
*O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. Pinto tão mal que dá gosto e não mostro meus, entre aspas, quadros, a ninguém. É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço (...) Acho que o processo criador de um pintor e do escritor são da mesma fonte. O texto deve se exprimir através de imagens e as imagens são feitas de luz, cores, figuras, perspectivas, volumes, sensações.* Vejam aqui os quadros: Explosão, Medo, Luta Sangrenta pela Paz, Sem título e Tentativa de SerAlegre.
*Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. Que não me entendam pouco-se-me-dá. Nada tenho a perder. Jogo tudo na violência que sempre me povoou, o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei. Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado. Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito. O clímax de minha vida será a morte.*
É isto. A gente sente falta do que é bom. E a obra de Clarice está aí para mostrar que talento é sopro divino.
Aqui estão alguns depoimentos que confirmam a excelência dessa obra:
Clarice veio de um mistério. partiu para outro. Ficamos sem saber a essência do mistério Ou o mistério não era essencial era Clarice viajando nele.
Carlos Drummond de Andrade
Onde estivestes de noite que de manhã regressais com o ultra-mundo nas veias entre flores abissais? Estivemos no mais longe que a letra pode alcançar: lendo o livro de Clarice, mistério e chave no ar.
Carlos Drummond de Andrade
Clarice não delata, não conta, não narra e nem desenha ? ela esburaca um túnel onde de repente repõe o objeto perseguido em sua essência inesperada.
Lúcio Cardoso, escritor, cineasta, pintor e grande amigo.
A obra de Clarice recodifica e reinterpreta em prosa poética contemporânea as crenças cabalísticas judaicas. Para a Cabala, como para Clarice, a existência se explicita e se estrutura graças ao Mistério: É a certeza da existência do Mistério que permite à humanidade exercitar sua infinita liberdade (ZOHAR); A criação não é uma compreensão, é um novo mistério (CL: Visão do Esplendor)
ESTER SCHWARTZ, Mestre em Letras, professora, co-Diretora da ALACL
...(você pega mil ondas que eu não capto, eu me sinto como rádio de galena, só pegando a estação da esquina e você de radar, televisão, ondas curtas), é engraçado, como você me atinge e me enriquece ao mesmo tempo, o que faz um certo mal, me faz sentir menos sólido e seguro.
Rubem Braga, escritor e amigo.
O desenvolvimento de certos temas importantes da ficção de Clarice Lispector insere-se no contexto da filosofia da existência, formado por aquelas doutrinas que, muito embora diferindo nas suas conclusões, partem da mesma intuição kierkegaardiana do caráter pré-reflexivo, individual e dramático da existência humana, tratando de problemas como a angústia, o nada, o fracasso, a linguagem, a comunicação das consciências, alguns dos quais a filosofia tradicional ignorou ou deixou em segundo plano.
Eu disse que tinha mais, eu disse que contava depois, pois não? Vamos a eles:
Botar a boca no trombone
Significativo: Fazer um escândalo; contar tudo o que sabe sobre certo assunto.
Histórico: Na verdade, a expressão vem muito antes de da invenção do trombone. Originalmente se dizia *Pôr a boca no trambolho*. Depois é que foi adaptada, talvez pelo barulho que o trombone faz. Como você sabe, trambolho siginifica *obstáculo, embaraço, estorvo, empecilho*. Portanto, inicialmente, *pôr a boca no trambolho* era tentar vencer os obstáculos. Chico Buarque comenta alguma coisa em seu livro Estorvo.
Dinheiro não nasce em árvore
Significativo: Expressão preferida dos pais quando os filhos pedem dinheiro. É preciso trabalhar para se ter o dinheiro. Histórico: Frase atribuída a Deus, quando expulsou Adão e Eva do Paraíso. Ou seja,*agora vocês vão ter que trabalhar e inventar o dinheiro, porque dinheiro não nasce em árvore, como a maçã.* publicado
por Magaly Magalhães às 9:56 AM