Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
30.1.04 publicado
por Magaly Magalhães às 11:32 PM
Que v�em aqui? N�o � bela? Bel�ssima? Uma viola medieval. Imaginemos ouvir um fundo musical da �poca e um belo trovador a declamar uma c�lida cantiga de amor.
Trago aqui uma cantiga de inspira��o espanhola que faz parte do Cancioneiro Geral:
CanTYGUA SUA PARTINDOSSE
de Jo�o Rodrigues de Castelo Branco
Senhora, partem tam tristes meus olhos por v�s, meu bem, que nunca tam tristes vistes outros nenhuns por ninguem.
Tam tristes, tam saudosos, tam doentes da partyda, tam cansados tam chorosos, da morte mays desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tam tristes os tristes, tam fora desperar bem que nunca tam trystes vistes outros nenhuns por ninguem.
As cantigas portuguesas (s�culos XII a XIV) eram de quatro tipos: cantigas de amor, cantigas de amigo, cantigas de esc�rnio e cantigas de maldizer. As cantigas de amor eram de eu l�rico masculino. O trovador falava de seu amor por uma dama (geralmente da corte, veladamente, para n�o a expor) e do tormento que esse amor lhe causava por n�o ser correspondido. As cantigas de amigo eam de eu l�rico feminino (feitas por um trovador) em que as preocupa��es da mo�a com o amigo eram contadas, �s vezes, em forma de di�logo entre ela e a m�e, ou entre ela e a natureza. Tomavam nomes diferentes de acordo com o cen�rio em que eram compostas, podendo ser Alvas (amanhecer), Barcarolas (mar/destino:Cruzadas), Bailias (dan�as) e outras. As cantigas de esc�rnio eram de natureza sat�rica, envolvendo algum membro das Cruzadas sobre casos de deser��o, por exemplo, mas em tom sempre velado. Finalmente, as cantigas de maldizer eram s�tiras pesadas em que eram dados �cios claros da pessoa que se quer ofender, geralmente um senhor feudal, ou um pol�tico influente e malquisto.
Apresento, como exemplo, uma can��o de amigo do g�nero barcarola:
BARCAROLA
Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! E ai, Deus, se verr� cedo!
Ondas do mar levado, Se vistes meu amado! E ai, Deus, se verr� cedo!
Se vistes meu amigo, o por que eu suspiro! E ai, Deus, se verr� cedo!
Se vistes meu amado o por que ei gran cuidado! E ai, Deus, se verr� cedo!
Martim Codax, apud Ernani Cidade
Obs. Para melhor apreens�o do sentido da cantiga, entender o termo verra como vir� e a express�o o por que como aquele por quem eu
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"Sou feliz como um rel�mpago no trigo"
Vinte anos sem Cort�zar
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Boa- noite! Com belos sons de viola, intu�dos. publicado
por Magaly Magalhães às 11:00 PM
28.1.04 publicado
por Magaly Magalhães às 10:22 PM
Preciso aprender a me dividir em tr�s ou quatro. A �nsia de sempre. Acho que n�o sei lidar com o tempo. Quero postar, quero visitar os blogues, quero comentar nos blogues, quero ler ( tr�s livros iniciados, e n�o deslancho em nenhum!), quero ler os e-mails que chegam, quero responder aos e-mails recebidos, quero dar aten��o aos problemas dom�sticos, quero participar da vida dos meus . Simplesmente, n�o sei administrar essas coisas todas de modo satisfat�rio, mesmo entrando pela madrugada, noite ap�s noite.
E da�? Cada um com seu ritmo e sua capacidade de lidar habilmente ou n�o o seu pr�prio tempo.
Ah! Aquele jogador do Benfica ainda me traz o cora��o transido de agonia! Aquela imagem mostrada � exaust�o pela TV n�o me sai da retina. O fato � que n�s nunca estamos preparados para receber esses golpes da vida.
E nossa derrota para o Paraguai! Que coisa desconexa? Perdemos a vaga para as Olimp�adas. � de doer!
E a festa de S�o Paulo? Estou t�o distante de tudo que � festivo que deixei passar sem um coment�rio. Mas a Meg apresentou um trabalho brilhante. Foram ao Subrosa? N�o percam!
N�o � que transformei meu post em bate-papo (aqui pra n�s, de queixas e not�cias gastas?).
Hora de relaxar. Em compensa��o, vou escolher um poema bem lindinho .
Charneca em flor
Enche o meu peito, num encanto mago, O fr�mito de coisas dolorosas... Sob as urzes queimadas nascem rosas... Nos meus olhos as l�grimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago Em mim? Eu oito bocas silenciosas Murmurar-me as palavras misteriosas Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade, Dispo a minha mortalha, o meu burel, E, j� n�o sou, Amor, S�ror Saudade...
Olhos a arder em �xtases de amor, Boca a saber a sol, a fruto, a mel: Sou a chaneca rude a abrir em flor!
Florbela Espanca
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"Procuremos somente a Beleza, que a vida � um punhado infantil de areia ressequida, Um som d'�gua ou de bronze e uma sombra que passa..."
Eug�nio de Castro
publicado
por Magaly Magalhães às 7:02 AM
25.1.04 publicado
por Magaly Magalhães às 4:52 PM
Estou decidida hoje a pagar uma d�vida. Trazer N�lida Pi�on ao nosso mundinho, que j� tem recebido tantas outras figuras de import�ncia e exibir, seu perfil, tend�ncias, caaracter�sticas liter�rias, planos de obra.
N�o preciso dizer que N�lida � escritora e acad�mica. Nove romances publicados, tr�s livros de contos e uma narrativa em estilo fragment�rio, N�lida � uma autora consagrada nacional e internacionalmente, tendo conquistado dois pr�mios liter�rios de import�ncia: o pr�mio M�rio de Andrade e o Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana, este disputado com outros cento e dez autores. Pela primeira vez , o Pr�mio de Literatura Latino-Americana e do Caribe � outorgado a uma mulher, a uma brasileira e a uma escritora de l�ngua portuguesa. �A REP�BLICA DOS SONHOS� � a obra premiada.
Foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, 1996. Sua gest�o foi altamente prof�cua em todos os sentidos. Tamb�m n�o podia ser diferente, tal a paix�o e o entusiasmo que ela sempre nutriu pelo patrono dessa Casa. A um jornalista que lhe perguntou sobre a capacidade de o Brasil produzir artistas e escritores de categoria, ela respondeu: �O Brasil n�o � uma obra do acaso; o Brasil vem de muito longe. Talvez n�s, brasileiros, � que ainda n�o tenhamos a no��o exata dos feitos civilizat�rios do Brasil. O pa�s deu para o mundo um dos maiores escritores do s�culo XIX. Machado de Assis, minha grande paix�o liter�ria, n�o � um g�nio tribal. � um g�nio can�nico, normativo, que pode se ombrear com Flaubert e Stendhal, com qualquer grande romancista de sua �poca. Por isso, eu vou dizer uma frase que vivo repetindo h� anos, mas � uma frase que n�o pode ser mudada: se Machado de Assis existiu, o Brasil � poss�vel.�
Est� a� uma p�lida refer�ncia a esta grande representante da literatura brasileira, atualmente ensinando na Universidade de Miami e dando palestras nos quatro cantos do mundo, fazendo conhecida nossa �ndole e nossa capacidade de criar , de expor nossos pr�prios matizes.
De N�lida Pi�on:
�A literatura n�o � transparente, n�o � uma linha reta. Ela � sinuosa, enigm�tica.�
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Cumprindo uma encomenda que me foi feita por uma gentil companheira � mais um poema de Jorge de Lima (escolha livre).
MULHER PROLET�RIA
Mulher prolet�ria � �nica f�brica que o oper�rio tem (f�brica de filhos) tu na tua superprodu��o de m�quina humana forneces anjos para o Senhor Jesus, forneces bra�os para o senhor burgu�s. Mulher prolet�ria, o oper�rio teu propriet�rio h�-de ver, h�-de ver: a tua produ��o, a tua superprodu��o, ao contr�rio das m�quinas burguesas salvam teu propriet�rio.
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Que nos seja boa a semana que entra.
publicado
por Magaly Magalhães às 4:37 PM
22.1.04
Homenageando o artista Dudi Maia Rosa publicado
por Magaly Magalhães às 4:44 PM
DO ARB�TRIO
Das estrias que a m�o esculpe s� o que brilha sobrevive.
N�made a manh� despe o sol � flor da carne,
m�ltipla, � vertigem da linguagem.
N�o h� comportas nem caminhos
n�o h� saaras nem vienas
em tudo h� rinhas e arestas de flores e esquifes.
Em tudo entalha-se ao rev�s coisas que se mostram e n�o se d�o,
que s� no verso v�em-se, no peeling pelo avesso.
(Delitos que em seu ex�lio transbordam de rubro a lira, resenham atrav�s do j�bilo, rasuram atrav�s da ira.)
sopra revanche de ritmos no �ntimo vi�s do n�o dito,
sopra o arb�trio dos dias.
DO SIL�NCIO
Para Jorge Wanderley
N�o precisa de n�s o sil�ncio: j� possui sua coda de m�sica muda: secreta seita em que se enreda e se desnuda.
N�o precisa do nosso exaspero nem do ruir das coisas f�sicas sujeitas � limalha e � ferrugem.
- Cantar � esculpir rumores.
Imerso em nossa espera o sil�ncio nos arresta em sua forma de estar ausente.
Dois poemas de SALGADO MARANH�O do livro SOL SANG��NEO
Engraving por Roberto Stelzer
publicado
por Magaly Magalhães às 11:52 PM
Estou feliz, sim, feliz como jamais pensei que poderia me sentir t�o cedo... As grandes almas est�o sempre a servi�o da alegria do pr�ximo. Assim � a grande dama do universo dos blogs que, como costuma dizer a Cora, � a fada-madrinha do blogverso nosso de cada dia � a grandiloq�ente Meg , a nossa iluminada, festejada e querida Subrosa. Estou feliz, sim, pelo lindo visual que substituiu a acanhada face de meu blog original, resultado da arte de Rossana Fischer que colocou nele toda a sua compet�ncia e delicada aten��o e produziu o layout vibrante que voc�s todos contemplam agora.
Dentro desse estado de satisfa��o, vou ao post de hoje, na minha nova fun��o de coordenadora de publica��o do Imagens & Palavras.
Achei que seria interessante trazer pra c� um dos textos para voc�s lerem in loco e avaliarem a utilidade dos assuntos que podem encontrar l�. Assim, sem cliques nem buscas, voc�s v�o ter ocasi�o de ler:
DRUMMOND, O SEMI-ANALFABETOno m�nimo /SERGIO RODRIGUES23.Out.2003 | Era um longo poema de versos brancos. P�ssimos versos brancos: derramados, prosaicos, mancos de gram�tica e de ritmo, saturados de uma glicose edificante sobre a amizade ou a import�ncia de sorrir e aproveitar a vida enquanto � tempo, j� n�o me lembro bem, mas tanto faz. S� ficava faltando o desenho tosco de uma pomba ou cachoeira espumante para transform�-lo no texto ideal de um desses p�steres de �eleva��o espiritual� para adolescentes vendidos em camel�s e bancas de jornal. O horror, o horror, calamidade est�tica pura. Assinava-o Carlos Drummond de Andrade. De que maneira come�a uma coisa dessas? N�o descarto a possibilidade de come�ar como piada, como tro�a. Pelo menos em tese, tem mesmo alguma gra�a a s�bita rela��o estabelecida entre o mais consagrado poeta brasileiro e o versejar mais primitivo que se possa conceber. Chegamos a sentir uma esp�cie de vertigem naquela fra��o de segundo antes de compreendermos a fraude tipicamente intern�tica. Pois �: � claro que o tal texto me chegou pela internet, como um dia chegaram o falso poema do Borges, a falsa cr�nica do Verissimo, o falso artigo do Mill�r, o falso conto do Saramago... Est� bem, � poss�vel que a tese do in�cio jocoso para correntes liter�rias desse tipo seja benevolente demais com a humanidade. Admito: mais prov�vel � que na raiz do problema esteja a m�-f� de autores an�nimos. Talentos injusti�ados - no conceito que fazem de si mesmos - imaginam que, para serem lidos e apreciados como merecem, s� o que lhes falta � uma assinatura consagrada. De repente, pronto, n�o falta mais: l� est�o suas obras viajando o mundo nas asas rapidinhas da ignor�ncia. Deve ser assim mesmo, mas a verdade � que o in�cio da coisa n�o me preocupa. At� a� tudo bem, ou melhor, tudo mal, mas vamos fazer o qu�? O que me incomodou profundamente no epis�dio do poema de �Drummond� foi o fato de seu remetente ser um sujeito inteligente, esclarecido e vivido, jornalista na faixa dos 40 anos, consumidor de uma dieta de livros muitas vezes superior � m�dia nacional. Pois tal membro da rarefeita elite cultural brasileira recebeu o spam esp�rio e o repassou a uma longa lista de conhecidos, aparentemente sem ter tido nem meio segundo de d�vida sobre a autenticidade daquele �Drummond�. Isso sim � deprimente. Mais deprimente at� do que a praga dos �resumos� liter�rios que infesta a internet, sobre a qual li outro dia. Trata-se de uma sacada de sites voltados para adolescentes sem tempo, disposi��o ou neur�nios para encarar as grandes obras da literatura que seus professores teimam em fazer cair nas provas. Em vez de ler �Vidas secas�, por exemplo, o pregui�oso d� um pulo no resumo e fica por dentro de tudo em quinze, vinte linhas. Todas elas memor�veis: �A fam�lia organiza a mudan�a e Fabiano quer matar Baleia que est� doente, mas acaba a ferindo com um tiro, por�m ela foge. Nisso as crian�as choram muito a perda do animal�. Para fechar o pacote de barbaridades, s� faltava dizer que o autor desse �resumo� � Antonio Candido. Quase todo mundo ia acreditar. Na boa. Graciliano Ramos, que n�o tinha muita paci�ncia, faz bem de estar morto para n�o ler uma coisa dessas. Tudo culpa da internet? N�o, a menos que o mensageiro possa ser responsabilizado pela m� not�cia. O que o (j� nem t�o) novo meio faz � nos revelar com a nitidez de um tapa na cara algo triste que, bem ou mal, sempre soubemos: com exce��es t�o valorosas quanto estatisticamente desprez�veis, somos uma sociedade incapaz de entender pedrinhas do que l�.==Comente!Postado por Meg Guimar�es 29 out 2003 @ 07:16 : COMENT�RIOS:Est� a� uma afirma��o irrefut�vel. Somos uma sociedade de poucos leitores, na qual a maioria n�o absorve a ess�ncia do que l�.H� que se dar poderosa �nfase � interpreta��o de textos nos cursos fundamental e m�dio para que venha a existir um n�vel mais alto de apreens�o da leitura.Outro ponto tocado com muita propriedade concerne ao uso e abuso de internautas sem o devido respeito ao instrumento de comunica��o que t�m em m�os, n�o hesitando em publicarem textos com cr�dito falso, sabe-se l�, se ocultando alguma inten��o tendenciosa. No m�nimo, usando linguagem impr�pria ou deturpada. S�o problemas dif�ceis de contornar, a n�o ser atrav�s da educa��o, na escola e em fam�lia, de resultado a longo prazo.postado por: Magaly em janeiro 17, 2004 12:36 AM
Como a que acaba de ser exposta, h� passagens interessant�ssimas que est�o muito � m�o, pois � s� clicar no banner de Imagens & P�ginas e escolher em Arquivos a que mais interessar no momento.
Recado pra Of�lia A imagem abaixo � uma homenagem a voc�.
publicado
por Magaly Magalhães às 11:18 PM
18.1.04 publicado
por Magaly Magalhães às 12:43 AM
17.1.04
Voltando �s publica��es que t�m sido feitas no Imagens e Palavras, eu j� tive ocasi�o de falar que Meg est� fazendo um trabalho amplo de divulga��o de textos da melhor qualidade e do maior interesse pra quem quer ampliar seus horizontes liter�rios.
O caminho para eles se encontra � esquerda, logo abaixo da imagem que encabe�a o I&P, sob o t�tulo Os Melhores Textos Surgidos em Weblogs ou n�o. Vimos, num primeiro lance, os pequenos contos de quatro semifinalistas: Irina Kowalski, Marli, Ov�dio Dantelli e Elisa L. Oportunamente, haver� a continuidade dessas publica��es. E, enquanto isso n�o acontece, Meg providenciar� sempre uma entrevista interessante, ou uma c�nica diferente, um pref�cio not�vel, um texto sempre de qualidade para nosso g�udio e proveito.
O �ltimo veio em forma de entrevista � NO M�NIMO (Rato de Livraria) por Fl�vio Pinheiro Ex-Libris / MILTON HATOUM
Trata-se de um fen�meno . O entrevistado apresenta respostas ricas em indica��o de t�tulos demonstrando conhecimento enciclop�dico admir�vel. O leitor s� tem a ganhar: aprende, enriquece suas fontes de busca e ainda pode comentar o texto apresentado com liberdade e esp�rito cr�tico.
Vamos l�. A fonte de inspira��o de Meg para esse trabalho de divulga��o � sua imensa vontade de espalhar conhecimento, cumprindo sua voca��o de mestra zelosa e guardi� de letras.
E por falar em Letras que remete a Linguagem, vamos nos deliciar com
VIDA TODA LINGUAGEM
de M�rio Faustino
Vida toda linguagem, frase perfeita sempre, talvez verso, geralmente sem qualquer adjetivo, coluna sem ornamento, geralmente partida. Vida toda linguagem, h� entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome aqui, ali, assegurando a perfei��o eterna do per�odo, talvez verso, interjetivo, verso, verso. Vida toda linguagem, feto sugando em l�ngua compassiva o sangue que crian�a espalhar� � oh met�fora ativa! leite jorrado em fonte adolescente, s�men de homens maduros, verbo, verbo. Vida toda linguagem, bem o conhecem velhos que repetem, contra negras janelas, cintilantes imagens que lhes estrelam turvas trajet�rias. Vida toda linguagem � como todos sabemos conjugar esses verbos, nomear esses nomes: amar, fazer, destruir, homem, mulher e besta, diabo e anjo e deus talvez, e nada. Vida toda linguagem, vida sempre perfeita, imperfeitos somente os voc�bulos mortos com que um homem jovem, nos terra�os do inverno, contra a chuva, tenta faz�-la eterna � como se lhe faltasse outra, imortal sintaxe � vida que � perfeita l�ngua eterna.
publicado
por Magaly Magalhães às 11:46 PM
15.1.04
De nossa gracinha que � Fl�via para o bem de nossos bons olhos.
publicado
por Magaly Magalhães às 11:30 PM
Infelizmente, ocorreu um erro no sistema interno e meu �ltimo post apareceu cheio de defeitos na coloca��o do �, do til e do acento agudo. Tentei aquela revis�o recomendada logo quando surgiu esse caso ( no per�odo da reestrutura��o da Blogger), mas n�o consegui. Resolvi, ent�o, repetir o post para voc�s n�o perderem a emo��o que se pode sentir a partir desses poemas lidos normalmente, sem vacila��es.
Um dia desses, deixei com voc�s um poema de Ana Cristina Cesar. Deu-me vontade de voltar a ela, cuja poesia revela uma alma angustiada, apesar da arg�cia com que analisa os fatos, os sentimentos, a vida. Vejam este aqui:
FLORES DO MAIS
devagar escreva uma primeira letra escrava nas imedia��es constru�das pelos furac�es; devagar me�a a primeira p�ssara bisonha que riscar o pano de boca aberto sobre os vendavais; devagar imponha o pulso que melhor souber sangrar sobre a faca das mar�s; devagar imprima o primeiro olhar sobre o galope molhado dos animais; devagar pe�a mais e mais e mais
E este outro:
PSICOGRAFIA
Tamb�m eu saio � revelia e procuro uma s�ntese nas demoras cato obsess�es com fria t�mpera e digo do cora��o: n�o soube e digo da palavra: n�o digo (n�o posso ainda acreditar na vida) e demito o verso como quem acena e vivo como quem despede a raiva de ter visto
E trago tamb�m Paulo Leminski, este interessante jornalista, professor de Hist�ria, Reda��o e Jud� que nos deixou cedo demais, em 1889, h�, portanto, quase 15 anos. Dele, trouxe-lhes:
ESTUPOR
esse s�bito n�o ter esse est�pido querer que me leva a duvidar quando eu devia crer
esse sentir-se cair quando n�o existe lugar aonde se possa ir
esse pegar ou largar essa poesia vulgar que n�o me deixa mentir
E, para finalizar, seu poema-ora��o:
S�O N�O
n�o s�o s�o n�o rogar por n�s para que n�o sejamos sen�o
Encerremos por hoje
publicado
por Magaly Magalhães às 10:38 PM
10.1.04 publicado
por Magaly Magalhães às 3:03 PM
Uma sensa��o difusa me toma o peito agora, exatamente na hora de postar, de conversar com voc�s. Nada me aconteceu durante o dia que me causasse algum mal-estar... Ah! o assalto a um apartamento na vizinhan�a.
Meu dia corrido, cheio de ocupa��es rotineiras me tirou a aten��o do ocorrido em plena manh�, j� clara, em sua s�tima hora. Numa esquina, um sujeito, empunhando uma AR15, funcionava como olheiro a uns 12 metros da entrada do edif�cio em que moro. Na outra esquina, outro olheiro aparelhado com mais uma AR15. Num edif�cio da transversal curtinha, de um trecho s�, assaltantes, armados at� os dentes, molestavam, amedrontavam e saqueavam os moradores de dois dos dez apartamentos. Nem des�o a detalhes. O Globo de quinta-feira fez isso muito bem.
O amargo que me ficou na alma traduz toda a minha indigna��o diante de nossa impot�ncia. � muita inseguran�a!
A Ladeira do Sacop� tem vivido dramas semelhantes com freq��ncia assustadora, segundo os jornais.
H� poucos anos, no edif�co vizinho ao meu, uma m�dica de 62 anos, que havia vindo abra�ar sua m�e no Dia das M�es, n�o logrou voltar para casa. Foi morta dentro do elevador por dois marginais que haviam entrado no edif�cio como entregadores de flores e aguardavam as v�timas no elevador.
Como se n�o bastassem os jornais cuspindo fogo, furtos e fatos escabrosos, estou eu aqui a engrossar este ros�rio de casos deprimentes. � que, quando o caso se passa t�o proximamente, nossa inquieta��o redobra. O medo se instala, nossa vida vira um tumulto.
E n�o h� um poder efetivo que consiga controlar essa horda insana que vive de praticar roubos e crimes?
Precisamos de tantas provid�ncias!
De um sistema penitenci�rio onde se reeduque o malfeitor; n�o de pris�es desaparelhadas que amontoam desumanamente os indiv�duos, piorando-lhes o car�ter, fomentando rebeli�es, abrindo margem � corrup��o deslavada. De uma pol�cia adestrada, incorrupt�vel. De uma f�rmula para uma distribui��o de renda menos injusta. De uma mobiliza��o mais significativa da sociedade no sentido de atingir esses objetivos.
E precisamos de um sistema educacional, onde a crian�a se forme para a vida plena, moldada pelos princ�pios �ticos, em que companheirismo, solidariedade, ombridade sejam uma constante.
Sinto-me menos pesada dividindo com voc�s esse desgosto. N�o me levem a mal.
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O Globo de hoje, s�bado (sim, ontem o cansa�o me venceu e terminei n�o concluindo o post, o que vou fazer j�) traz em seu caderno Prosa e Verso um artigo do jornalista Elias Fajardo fazendo um paralelo entre as �duas baleias no oceano global: Brasil e �ndia�. Ele fala da �ndia, pa�s que vai sediar o F�rum Social Mundial e seus pontos em comum com o Brasil, como a biodiversidade e o clima. E traz � baila a lira de Cec�lia Meireles nos versos �Eu vi o mundo recoberto/pela manh� de claridade/ da incandescente eternidade�, onde ela insinua as diferen�as entre os dois universos. Vieram-me � mente os lindos poemas que a poeta e educadora , em sua viagem � �ndia , dedicou ao pa�s que visitava. Logo imaginei oferecer-lhes um deles que acho magn�fico:
A LEI DO PASSANTE
Passante quase enamorado, Nem livre nem prisioneiro, constantemente arrebatado, - fiel? saudoso? amante? alheio? a escutar o chamado, o apelo do mundo inteiro, nos contrastes de cada lado...
Chega?
Passante quase enamorado, j� divinamete afeito a amar sem ter de ser amado, porque o tempo � trai�oeiro e tudo lhe � tirado repentinamente do peito, malgrado sem querer, malgrado...
Passa?
Passante quase enamorado, pelos campos do inverdadeiro, onde o futuro � j� passado... - L�cido, calmo, satisfeito, - fiel? saudoso? amante? alheio? S� de horizontes convidado...
Volta?
publicado
por Magaly Magalhães às 2:53 PM
3.1.04
Em clima de saudade, a Praia do Gunga, ponto tur�stico de Macei�. publicado
por Magaly Magalhães às 11:39 PM
Saudosa de meu ber�o, recorro ao poeta de mesma proced�ncia.
� com orgulho e profundo respeito que evoco JORGE DE LIMA, o poeta cujo plano situava-se acima da fr�gil natureza das coisas. Sua poesia pairava sempre alto, mesmo quando n�o era inteiramente subjetiva. Ele n�o transformava dores pessoais em poemas. A subjetividade era inerente � sua poesia e sonorizava seu canto
Trago-lhes hoje CANTIGAS (in "Novos Poemas").
As cantigas lavam a roupa das lavadeiras. As cantigas s�o t�o bonitas, que as lavadeiras ficam t�o tristes, t�o pensativas!
As cantigas tangem os bois dos boiadeiros! Os bois s�o morosos, a carga � t�o grande! O caminho � t�o comprido que n�o tem fim. As cantigas s�o leves... E as cantigas levam os bois, batem a roupa das lavadeiras!
As almas negras pesam tanto, s�o t�o sujas como a roupa, t�o pesadas como os bois...
As cantigas s�o t�o boas... Lavam as almas dos pecadores! Lavam as almas dos pecadores!
Est�o vendo? A um assunto trivial, que podia ter sido circunscrito � descri��o da paisagem, o poeta conferiu um tratamento religioso. Deu um nome vago ao poema e foi al�m das lavadeiras e boiadeiros para sugerir que os homens precisam lavar a alma e tirar-lhes as sujidades. Para poeta de T�nica Incons�til os problemas humanos e divinos eram os capitais.
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A saudade amainada, vamos ao fato que estragou a entrada do ano . As chuvas, apesar de moderadas, mas constantes, chegaram a causar um grande n�mero de deslizamentos aqui, no Rio. Muita gente desabrigada, sofrimento para muitos.
Esperemos que o tempo mellhore e que as pessoas atingidas logo se refa�am. o que n�o � t�o f�cil dado o tipo dos preju�zos sofridos. Mesmo que haja uma a��o solid�ria como sempre acontece, essas ocorr�ncias deixam sinais de desestrutura��o por um bom tempo.
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Espero que 2004 nos traga solu��o para muitos dos problemas que emperram o desenvolvimento de nosso pa�s para que o Brasil possa se projetar como uma na��o adulta e de grandes possibilidades.
publicado
por Magaly Magalhães às 11:13 PM