Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
30.1.03
"Combinando uma usina de percuss�o com viol�o eletrificado e letras inspiradas na poesia dos emboladores e nas profecias do sert�o...", o grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado surge como um fen�meno no cen�rio musical, n�o s� no Brasil como na Europa, lotando as casas de show de qualquer percurso. Criado em 1997, em 1999, lan�ava seu disco (independente e hom�nimo) de estr�ia, alcan�ando um total de venda de 20 mil c�pias. Lan�a agora seu segundo disco -"O palha�o do Circo sem Futuro" - com o mesmo sucesso. O Teatro Rival acabou de receb�-lo para duas apresenta��es, domingo (26 / 01)e ter�a-feira (28 d / 01), ocasi�es em que teve seu espa�o lotado por um p�blico cheio de entusiasmo. Segredo de sua sedu��o : o grupo sabe transformar em universal o que � regional. Seus talentosos m�sicos s�o o violonista Clayton Barros, o letrista e vocalista Lirinha e os percussionistas Emerson Calado, Henrique e Rafa Almeida que elaboram muito bem o clima apocal�ptico caracter�stico da m�sica sertaneja nordestina.
.S� para voc�s sentirem o gostinho do produto oferecido, vai um trecho de "A �rvore dos Encantados" :
Escuto O trov�o que escapou As ladainhas das mulheres secas Herdeiros do fim do mundo Isso n�o � real N�oI
Informa��es tiradas do artigo de Bruno Porto em O Globo de ter�a-feira passada, dia 28 / 01/03.
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Estou com M�riam Leit�o quando encabe�a seu artigo "Sem Compara��o" em Panorama Econ�mico de O Globo de hoje (30 /01) nestes termos : "O presidente Lula teria dito que n�o se pode permitir que a Constitui��o venezuelana seja rasgada; do contr�rio, a pr�xima ser� a brasileira. O conflito l� n�o � entre os defensores da Constitui��o e os golpistas. N�o h� paralelo entre o que acontece l� e aqui .Os presidentes Ch�vez e Lula t�m hist�rias diferentes. A identifica��o entre os dois � for�ada e prejudicial ao Brasil."
Num texto inteligente, marca desta colunista da �rea econ�mica, que discorre com compet�ncia e propriedade sobre os mais variados assuntos da pol�tica econ�mica, ela aponta as raz�es pelas quais n�o se pode e n�o se deve fazer a tal identifica��o entre as duas personalidades, dando uma mostra convincente de que o conhecimento dos fatos aliado a uma capacidade de an�lise minuciosa das circunst�ncias que envolvem cada situa��o � um bom indicador de maturidade pol�tica. Muito bem, M�riam.
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publicado
por Magaly Magalhães às 5:04 PM
25.1.03
No dia 15, ao recome�ar depois do involunt�rio hiato ocorrido em minhas publica��es, terminei a sauda��o do reencontro , perguntando quem seria o autor do soneto cujo �ltimo terceto eu deixava ali escrito.Vou deixar agora o primeiro terceto pra ver quem sente o estilo do festejado poeta e consegue acertar no nome do pr�prio.
"T�o louca a minha amiga, linda e louca Minha amiga, em seu branco devaneio De mim, eu de amor pouco e vida pouca"
Se algu�m acertar, favor colocar al�m do nome do autor as duas quadras que comp�em o soneto sem t�tulo que estou apresentando. O poeta fez carreira diplom�tica, enriqueceu m�sicas de compositores c�lebres com letras magistrais e tem um poema que � reproduzido em quase toda antologia, cujo �ltimo verso tornou-se frase obrigat�ria em se falando de amor...
Ent�o? Assim est� mais f�cil?
E aqui fica, � guisa de modelo do fazer po�tico, mais um soneto do autor em quest�o :
SONETO DA CRIA��O
Deus te fez numa f�rma pequenina De uma argila bem doce e bem morena Deu-te uns olhos min�sculos de china Que parecem ter sempre um olhar de pena.
Banhou-te o corpo numa fonte fina Entre os rubores de uma aurora amena E por criar-te assim, leve e pequena Soprou-te uma alma c�lida e divina.
T�o formosa te fez, t�o soberana Que dar-te aos anjos por irm� queria Mas ao plasmar-te a carne predileta
Deus, comovido, te criara humana E para justa moradia Atirou-te aos bra�os do poeta.
Rio, 28 /3 /1938
Est� bom assim? At� mais.
publicado
por Magaly Magalhães às 7:36 PM
23.1.03
a nobre arte
a nobre arte de viver t�o pouco nobre t�o pouco arte n�o em palcos mas em corpos de sangue em carne-viva sobre ossos esculpidos silenciosa, an�nima, animicamente
Cl�udio
�ta! Isso se chama talento e inspira��o! � por isso que n�o deixo de ler o blog do Claudinho.
Tendo feito refer�ncia aos poetas da Gera��o 45, no post passado, sinto-me inclinada a complementar essa abordagem sobre poesia contempor�nea, fazendo coment�rios acerca de alguns de seus muitos representantes. Jo�o Cabral de Melo Neto � um deles. Este pernambucano, que recebeu influ�ncia de Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes, conseguiu criar um estilo personal�ssimo, um estilo enxuto, econ�mico, em que a linguagem, sem verbalismos, se reduz ao estritamente essencial. Seguindo a tend�ncia contempor�nea - a poesia social - ele � autor de um auto de Natal, "Morte e vida severina narrando a caminhada de Severino desde o sert�o at� sua chegada a Recife. O poema � uma reflex�o e, ao mesmo tempo, um depoimento sobre problemas sociais do Nordeste brasileiro. Um pequeno trecho j� d� no��o do despojamento verbal e de estilo :
O retirante explica ao leitor quem � .
--O meu nome � Severino, n�o tenho outro de pia ....................................................... Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabe�a grande que a custo � que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais tamb�m porque o sangue que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que � a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia ( de fraqueza e de doen�a � que a morte severina ataca em qualquer idade, e at� gente n�o nascida).
Agora vou transcrever o trecho final. Como se trata de trechos soltos, cabe aqui uma explica��o Sem esperan�as, cansado de sofrer priva��es, Severino decide matar-se. Est� conversando com seu Jos�, mestre carpina, quando surge uma mulher e avisa ao mestre que seu filho acaba de nascer. Vizinhos e amigos comemoram o acontecimento. H�, ent�o a fala final que se segue :
O carpina fala com o retirante.
--Severino retirante, deixe agora que lhe diga: eu n�o sei bem a resposta da pergunta que fazia, se n�o vale mais saltar fora da ponte e da vida;
nem conhe�o essa resposta, se quer mesmo que lhe diga; � dif�cil defender, s� com palavras, a vida, ainda mais quando ela � esta que v�, severina;
mas se responder n�o pude � pergunta que fazia, ela, a vida, a respondeu com sua presen�a viva. E n�o h� melhor resposta que o espet�culo da vida: v�-la desfiar seu fio, que tamb�m se chama vida, ver a f�brica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, v�-la brotar como h� pouco em nova vida explodida; mesmo quando � assim pequena a explos�o, como a ocorrida; mesmo quando � uma explos�o como a de h� pouco, franzina; mesmo quando � uma explos�o de uma vida severina.
Fim da conversa de hoje. Preciso me policiar; tenho dificuldade de parar quando me entusiasmo por um assunto. Uma notinha s� a mais: Este auto foi levado ao teatro, musicado por Chico Buarque de Holanda, tendo alcan�ado sucesso consider�vel.
At� breve.
publicado
por Magaly Magalhães às 12:28 AM
20.1.03
De vez em quando, em nossos coment�rios sobre poesia contempor�nea, refiro-me � Gera��o de 45. Os poetas dessa gera��o praticaram uma poesia com rigor artesanal, explorando temas pessoais e l�ricos, rejeitando a irrever�ncia e a anedota. Ledo Ivo � um de seus representantes e comparece aqui com o seu
SONETO DE ABRIL
Agora que � abril, e o mar se ausenta, secando-se em si mesmo como um pranto, vejo que o amor que te dedico aumenta seguindo a trilha do meu pr�prio espanto.
Em mim, o teu esp�rito apresenta todas as sugest�es de um doce encanto que em minha fonte n�o se dessedenta por n�o ser fonte d��gua, mas de canto.
Agora que � abril, e v�o morrer as formosas can��es dos outros meses, assim te quero, mesmo que te escondas:
amar-te uma s� vez todas as vezes em que sou carne e gesto, e fenecer como uma voz chamada pelas ondas.
Esta renova��o de linguagem, surgida nos primeiros momentos do Modernismo, atingiria o seu cl�max com o Concretismo que prop�e uma poesia n�o linear, mas espacial. Surgem novas formas de express�o po�tica tendo em vista o visual, o aspecto material dos signos, as formas, as cores, a decomposi��o e montagem das palavras, determinando a cria��o de estruturas que se interligam visualmente :
"beba coca cola babe cola beba coca babe cola caco caco cola cloaca"
J� em 1962, uma outra tend�ncia se faz sentir, gerando a poesia Pr�xisque op�e � palavra-coisa, a palavra-energia. O poema n�o � um "objeto" est�tico, mas um "produto" din�mico, podendo transformar-se por a��o do leitor. O poeta, ao compor um poema, deve distanciar-se do significado humano daquilo sobre o que elabora, estabelecendo uma ponte entre o poeta e a vida social. Vejamos um exemplo no poema de M�rio Charmie:
VE�CULOS DE MASSA
o vidro transpar�ncia / olho cego consci�ncia a consci�ncia no v�deo / a transpar�ncia do vidro o povo cego da pra�a / o olho negro da massa a pra�a de olho cego / a massa de olho negro
o vidro transpar�ncia o cego consci�ncia a massa diante do v�deo a massa = olho de vidro
a pra�a de olho negro o povo = olho morcego
sem ver o povo com a venda a c�mara negra = sua tenda
sem ver / a venda no olho do povo te v� / a c�mara negra do sono
( De "Objeto selvagem", S�o Paulo, Quiron, 1977, p.417.
Revisitamos de modo breve a Gera��o 45. Mas ainda podemos especular sobre alguns poetas contempor�neos que conquistaram seu lugar de honra na literatura.
� demain, plagiando um conhecido cronista social, j� desaparecido.
publicado
por Magaly Magalhães às 1:18 AM
16.1.03
Gente! Que bom estar de volta! Andei com problemas em minha m�quina, o que me afastou de voc�s por 25 dias.Volto ansiosa por conversar, mas n�o vai ser hoje ainda. Por ora, quero s� avisar que estou formatad�ssima, novinha em folha, mas ocupada com a terefa de repor tudinho em meu computador zerado. Em poucos dias, estarei aqui para comentarmos algo de interessante, extravagante ou extraordin�rio que, por ventura, esteja rolando por a�, diante de n�s. Espero que tenham passado bem nas festas de fim de ano e estejam estreando 2003 de modo auspicioso.
"Assim � que, partindo eu vou levando Toda a desola��o de um at�-quando num ardente desejo de at�-breve"
Quem terminou um soneto com a estrofe acima reproduzida? Quem? Quem? Quem vai responder?