Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
Janeiro terminando, muita coisa sucedendo, dificuldade de dar conta de tudo que acontece. Not�cia boa � podermos contar com o renomado antrop�logo Roberto DaMatta como colunista de O Globo, toda quarta-feira. O artigo de hoje versa sobre o sofrimento e traz de volta o sentimento de incompreens�o diante da recente trag�dia asi�tica. Partem da� considera��es sobre o mal sustentado sentimento da finitude humana que leva o homem a esperar a continuidade da vida noutro plano, qui�� num mundo de l�gica e justi�a. Vale a pena uma leitura atenta.
Ainda bem que h�, de vez em quando, situa��es prazerosas que nos distraem momentaneamente dos problemas mais s�rios ou superiores � nossa humana compreens�o. Meu caso agora: acabei de ler o livro da Claudia Letti que representou uma pausa em minhas ansiedades. Leitura agrad�vel em estilo leve, Onde n�o se responde me deixou uma sensa��o gostosa. Poemas breves muito bem colocados, humor sutil, ironia insinuada, essa menina Claudia sabe onde pisa quando rima. H� os posts e n�o podiam ser mais bem escolhidos. Alegres, desenvoltos, ora reflexivos, negativos nunca, mostram bem a personalidade rica e vibrante de sua autora. Isso para n�o falar das cr�nicas, belo registro de impress�es verdadeiras sobre o cotidiano (o pr�prio e o do pr�ximo), exibindo atilada capacidade de percep��o e de an�lise cr�tica. Obrigada, Claudia, pelos momentos de pura satisfa��o que me ofereceu.
Ainda h� espa�o e tempo para uma homenagem. A quem? Vamos adivinhar? Algumas caracter�sticas: incans�vel no af� de �promover cultura� (roubando a express�o de algu�m que assim se manifestou ultimamente); pr�diga em id�ias que mexem com a capacidade de cria��o dos que se deixam envolver (e n�o s�o poucos); infatig�vel em seus gestos de assist�ncia intelectual a todos indiscriminadamente; alegre, festiva, desprendida, am�vel, carinhosa. Quem �?
LES PAS
Tes pas, enfants de mon silence, Saintement, lentement plac�s, Vers le lit de ma vigilance Proc�dent muets et glac�s.
Personne pure, ombre divine, Qu'ils sont doux, tes pas retenus ! Dieux !... tous les dons que je devine Viennent � moi sur ces pieds nus !
Si, de tes l�vres avanc�es, Tu pr�pares pour l'apaiser, A l'habitant de mes pens�es La nourriture d'un baiser,
Ne h�te pas cet acte tendre, Douceur d'�tre et de n'�tre pas, Car j'ai v�cu de vous attendre, Et mon coeur n'�tait que vos pas.
Oi, minha gente Estou fazendo uma tentativa de voltar a postar aos poucos, nem que seja 1 post de 10 em 10 dias. Come�o no ponto onde larguei: algumas considera��es sobre a estrutura da sociedade moderna, calcadas numas palestras a que assisti sobre temas antropol�gicos. N�o sei se raciocino adequadamente, mas tenho a impress�o de que a compreens�o dos problemas existentes nessa �rea nos ajudam a entender muitos fatos e nos colocam em posi��o de participar da evolu��o dos estudos pertinentes. Vamos l�.
Vamos falar de estruturas sociais, ou melhor, da estrutura de c�digos utilizando o racioc�nio l�gico (opera��es que o homem realiza dentro de seu c�digo). As estruturas sociais s�o de dois tipos: sim�tricas e assim�tricas. Para visualiz�-las, consideremos dois prismas. No primeiro, as camadas se superp�em simetricamente; produzindo equil�brio; no segundo, assimetricamente, gerando hierarquia (no topo, o poder). Em nossa sociedade, fala-se muito em democracia e liberdade; ora, se a estrutura do nosso c�digo (estrutura assim�trica) � de for�a e poder (dominantes em cima; dominados em baixo, na base da pir�mide), como pode haver distribui��o igualit�ria? Nosso sistema pol�tico, econ�mico e social, toda a gram�tica do nosso c�digo � hierarquizante. A domina��o d�-se por persuas�o ou coer��o. Que possibilidades objetivas tem esta sociedade, que se cr� igualit�ria, de cumprir suas fun��es dentro dos ditames da liberdade, se sua estrutura � contr�ria �quilo que induz � liberdade? Nossa estrutura industrial e mesmo nossa estrutura familiar s�o hierarquizadas. Isto n�o acontece em tribos ind�genas. O paj� n�o d� ordens, isto �, n�o se expressa pela capacidade de comandar o grupo imperativamente. Ele s� administra as quest�es do c�digo para resolver as quest�es do futuro em rela��o �s do passado. Isso nos mostra que a capacidade de poder n�o � a mesma em todas as sociedades. Numa sociedade assim�trica, � a perman�ncia do poder o que mias importa. Aquele que ocupa o poder tem import�ncia relativa. Tirar o lugar do poder pode acarretar o desabamento das camadas que a constituem. Entre n�s, n�o h� estrutura familiar sem hierarquia, o que n�o � observado entre os ind�genas. Um exemplo de comportamento familiar entre estes �ltimos: o pai costuma elevar o filho beb� � altura da cabe�a para olh�-lo em p� de igualdade, olho no olho, ao mesmo n�vel. Mais adiante, quando o �ndio menino j� tem alguma altura, � o pai que se abaixa para alcan�ar-lhe o olhar e se entenderem como iguais: � o tratamento igualit�rio, a democracia. Se houver alguma transgress�o de c�digo por parte da crian�a, s�o os pais que suportar�o a advert�ncia pela incapacidade de transmitir a ela os seus valores . Podemos dizer com seguran�a que nosso discurso � libert�rio, o que contraria a estrutura assim�trica do c�digo em que estamos inseridos. Ora, se s� se ouve o contr�rio do que reza o c�digo, a conseq��ncia disso � a desestrutura��o dessa sociedade. N�o h� como segurar uma sociedade que tem consci�ncia de que seu discurso � invertido. � certo que nenhuma sociedade lograr� atingir o modelo ideal. O homem jamais deixar� de procurar, de querer, de indagar e de se propor objetivos ou reformula��es. Somos realmente s�mbolos. A marcha din�mica da sociedade � lenta, mas, quando a maioria ganha essa consci�ncia, adv�m a reformula��o ou a transgress�o, que nem sempre � negativa. A sociedade n�o muda por doa��o; ela conquista a mudan�a. Nossa posi��o � determinada pelo tipo de educa��o que recebemos e que oscila entre o paternalismo e a autoridade. Assim � que este sistema ainda tem muita possibilidade de manter-se. Enquanto se acreditar que o espa�o do poder vai ser ocupado por este ou aquele indiv�duo, o sistema vai resistindo e sobrevivendo. Poder� at� sofrer mudan�as leves aqui e ali, mas prossegue. Da� a ocorr�ncia de tantas revolu��es dentro dele. Sinal da crise que j� estamos vivendo, embora seu processo seja lento e possa durar s�culos. Dentre as figuras que lutaram por modificar o contexto social, podemos destacar a figura de Guevara que intuiu o significado do lugar do poder. Ele se antecipou a seu tempo. Lutou sempre, brava e dignamente por aquilo em que cria e queria ver institu�do na sociedade. Tentando entender o exerc�cio do poder entre outros povos, analisemos o caso do indiano. O sistema de castas na �ndia horrorizou o Ocidente. Mas, ao que parece, foi um grande expediente social. As castas representavam velhas etnias. Cada casta gostava de permanecer nos limites de sua pr�pria condi��o, pois havia lugar para todos os tipos de homem. O homem ocidental mostrou-se incapaz de entender o sistema em si mesmo por falta de referenciais para tanto. Resumindo, nossa estrutura social � assim�trica, isto �, leva � manuten��o do poder. Ora, a verdadeira lideran�a deve ser sempre transit�ria. O lugar do poder � perigoso, pois tem como limite a for�a, a coer��o, a viol�ncia. Nenhuma sociedade tem sua consci�ncia explicitada, ou seja, uma sociedade se mant�m quando alimenta uma rela��o de cumplicidade. Enfim, a crise � real, a escamotea��o � um fato, nosso esquema se resume em 'trocar de rei', mas deve haver caminhos que nos levem a solu��es racionais. O homem � de luta; a quietude � nefasta, � aliena��o. Vamos procurar dinamismo com l�gica.