Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
Elas v�m de tal modo impregnadas de liberdade, elas surgem na vida com uma espontaneidade t�o clara, com uma simplicidade t�o l�mpida e definitiva em todos os seus gestos, em todas as suas atitudes, em todos os seus movimentos, que constituem um terr�vel esc�ndalo neste c�rcere em que n�s outros j� perdemos essas mesmas qualidades, que um dia foram tamb�m nossas, mas que adultos de ent�o foram arrancando dolorosamente, gritando coisas que n�o entend�amos e que na verdade n�o t�m exist�ncia digna de ser respeitada: interesses mesquinhos, conveni�ncias, preconceitos, ilus�es estreitas, com r�tulos graves de moral e dever... Elas n�o acreditam nessas palavras, n�o as compreendem, n�o as aceitam. Porque elas n�o precisam de obedecer a dogmas, para serem puras, pois j� s�o a pr�pria pureza; n�o precisam de palavras que escondam os defeitos, porque aparecem perfeitas; n�o precisam de nenhum artif�cio porque s�o apenas verdade. Mas, como o peso do ambiente � mais forte que toda a tenacidade de sua her�ica resist�ncia infantil, assim mesmo sem acreditarem, sem compreenderem e sem aceitarem, elas s�o for�adas a sucumbir sob a imposi��o violenta, obstinada, constante, das raz�es do adulto, exercendo sobre elas, com toda a largueza dos seus instintos de dom�nio, uma tirania que, desgra�adamente se sup�e apoiada na rigidez das virtudes e nos ditames das experi�ncias que podem ter sido de uma gera��o, mas...certamente n�o v�o ser mais das seguintes, -- porque a eternidade da vida tem esta coisa singular: n�o repete os seus aspectos... Elas poderiam criar um mundo mais verdadeiro, mais puro, mais de acordo com o sentido primordial da natureza. Elas s�o a vida em princ�pio e, apesar de todas as heran�as que j� carreguem em si, chegam diante de n�s como se n�o tivessem passado, como se fossem apenas esperan�a, como se tudo, depois delas nascesse tamb�m outra vez, livre, infinito, admir�vel. Mas suas perguntas mais profundas t�m respostas horr�veis. Ou insignificantes ou mentirosas. Suas manifesta��es mais espont�neas s�o recebidas com uma hostilidade inesperada e amarga. Seus primeiros pensamentos s�o encaminhados por um rumo que � o dos lugares-comuns, velhos e tediosos como ruas escuras. Seus primeiros sentimentos s�o limitados segundo medidas cautelosas de avareza. Elas, que v�m repletas de possibilidades intermin�veis, transbordando ritmos, riqueza, vibra��o, alegria, t�m de viver dentro de um c�rculo, contra a mesquinha curva, do qual o mais leve atentado � um tremendo crime. A vida delas � assim. � assim a vida das crian�as. Foi assim a nossa, e a dos nossos antepassados. E a dos nossos sucessores tamb�m h� de ser igual, se n�o tivermos hoje, todos n�s, que somos respons�veis por elas, este hero�smo de as defender contra os nossos pr�prios interesses, contra o nosso sossego, contra as nossas conveni�ncias, contra a falsidade da nossa exist�ncia que esmaga impunemente a sua incompar�vel e admir�vel vida.
(Rio de Janeiro, Di�rio de Not�cias, 13 de junho de 1931)
Cr�nica de Cec�lia Meireles, do livro Cr�nicas de Educa��o I
Como vemos, Cec�lia, professora que era, esfor�ou-se na defesa de novos caminhos para a escola brasileira. Colocou nessa luta todo seu empenho de suas firmes convic��es human�sticas. Sua contribui��o neste sentido foi inestim�vel, valios�ssima.
O tema continua v�lido, pulsante, urgente. Podemos tom�-lo como bandeira e continuar a pregar e trabalhar em prol da Educa��o no Brasil.
Texto longo, vamos evitar um post longo demais. � prefer�vel que haja tempo para digerir o pensamento da educadora.
Encerraremos rapidamente com um daqueles prov�rbios que foram explicados quanto ao significativo e ao hist�rico e est� citado no livro Mas ser� o Benedito?, de M�rio Prata:
T� com a macaca
Significativo: Est� furioso.
Hist�rico: A �ndia Bartira, filha de Tibiri��, casou-se com Br�s Cubas, fundador da cidade de Santos. Foi morar na casa dele e levou sua insepar�vel macaca. Quando brigavam, contam os historiadores, ela ia dormir com a macaca. Se algu�m perguntava por ela para Braz Cubas, ele respondia: *Est� com a macaca* (Do livro Da funda��o de Santos aos nossos dias, da pesquisadora da USP Carolina Aflalo)
Tem mais, tem mais, depois eu conto.
UPDATE (em 01/09/o5)
Uma not�cia alvissareira:
A escritora N�lida Pi�on acaba de ganhar o pr�mio Jabuti com o livro Vozes do Deserto lan�ado em 2004. Ano brilhante, este de 2005, para a escritora que, em julho passado, teve a gl�ria de receber o pr�mio de Asturias. ( Foto acima)
Nossos entusi�sticos parab�ns, grande dama das letras.
publicado
por Magaly Magalhães às 12:49 AM
20.8.05
Vista a�rea de um ponto do Recreio.
Sabem de uma coisa?
VOU-ME EMBORA P�RA PASS�RGADA
Vou-me embora p�ra Pass�rgada L� sou amigo do rei L� tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora p�ra Pass�rgada
Vou-me embora p�ra Pass�rgada Aqui eu n�o sou feliz L� a exist�ncia � uma aventura De tal modo inconseq�ente Que Joana a louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive
E como farei gin�stica Andarei de bicicleta Montarei um burro brabo Subirei no pau de sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a m�e d��gua Pra me contar as hist�rias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora p�ra Pass�rgada
Em Pass�rgada tem tudo � outra civiliza��o Tem um processo seguro De impedir a concep��o Tem telefone autom�tico Tem alcal�ide � vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de n�o ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar - L� sou amigo do rei - Terei a mulher que quero Na cama que escolherei Vou-me embora p�ra Pass�rgada.
Manuel Bandeira / Libertinagem
Que � que voc�s acham?
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Hoje n�o tem jeito, estou com a alma vestida de poesia. E voc�s chegaram a imaginar que eu tinha largado a ca�a aos poemas? N�o conseguiria. J� faz parte do meu metabolismo. Que fazer se, de repente, a gente se depara com um POSTAL como este da Cec�lia Meireles? Resistir? Quem h�-de?
POSTAL
Por cima de que jardim duas pombinhas est�o, dizendo uma para outra: "Amar, sim; querer-te, n�o?"
Por cima de que navios duas gaivotas ir�o gritando a ventos opostos: "Sofres, sim; queixar-me, n�o?"
Em que lugar, em que m�rmores, que aves tranq�ilas vir�o dizer � noite vazia: "Morrer, sim; esquecer, n�o?"
E aquela rosa de cinza que foi nosso cora��o, como estar� longe, e livre de toda e qualquer can��o!
Cec�lia Meireles / Flor de Poemas
Poema, um jeito de falar ao cora��o, com o cora��o.
D�, ao menos, para descansar o esp�rito das ignom�nias di�rias que enfrentamos no momento, o pa�s parado aguardando o desenrolar da cena pol�tica. Dif�cil de ag�entar a carga. Ufa!
publicado
por Magaly Magalhães às 11:17 PM
12.8.05