Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
27.9.02
Toda motivada para uma nova conversa, sento-me diante da tela e a vista cai naturalmente no texto do post mais recente e...que irrita��o! Pretendendo trazer-lhes a visita de um intelectual atuante numa �rea que ainda poucos sabem que ele tem explorado - a poesia - eu resvalo para um absurdo com minha imperdo�vel distra��o. Eu tinha que ter dito "ele n�o � s� dramaturgo, ...ele � tamb�m ficionista...;...em que retrata..." . D� para entender? O dramaturgo, o poeta, o estudioso de nossas fontes populares de express�o est� ainda entre n�s, suprindo-nos com obras de qualidade, gerenciando o aproveitamento de seus trabalhos em encena��es teatrais, telvisivas, e, gra�as a Deus, gozando de perfeita sa�de. � a for�a, a pertin�cia do sertanejo manejando seu instrumento de trabalho, aqui representado por sua bela produ��o liter�ria. Desculpas expressadas, vamos ao assunto de hoje. Pra variar, outro poeta sedutor por sua via trepidante, por seu tempo bem vivido, pelo legado po�tico que deixou. Seu nome � Vinicius de Moraes e est� relacionado fortemente � m�sica popular brasileira que ele engrandeceu com bel�ssimas contribui��es. Mas, na realidade, quero trazer para voc�s o "Jardim Noturno", livro que reune poemas in�ditos do nosso festejado poeta, colhidos do acervo de in�ditos, na Casa de Rui Barbosa. Trata-se de um trabalho meticuloso, realizado pela romancista Ana Miranda que, com seu empenho e delicadeza, conseguiu mais do que uma compila��o; comp�s um precioso retrato do poeta e exibiu a for�a contida em seu fazer po�tico. Transcrevo aqui o
SONETO DO AMIGO
Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retalia��es, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado.
� bom sent�-lo novamente ao lado Com os olhos que cont�m o olhar antigo Sempre comigo um pouco atribulado E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano Sabendo se mover e comover E a disfar�ar com o meu pr�prio engano.
O amigo: um ser que a vida n�o explica Que s� se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma multiplica...
Los Angeles, 7/12/1946
H� muitos mais; mas n�o h� de ser hoje. Voltarei com Vin�cius como voltarei com Suassuna, Pessoa, Florbela,Cec�lia, todos, se poss�vel. Cada um a desdobrar uma nova fibra sens�vel... � demain, amigos !
publicado
por Magaly Magalhães às 5:31 PM
23.9.02
Hora da surpresa!!! Com voc�s, Ariano Suassuna, como poeta, sim, porque ele n�o foi s� dramaturgo, como � mais conhecido. Ele foi tamb�m ficcionista, ensa�sta, cronista, autor de m�sicas e bal�s em que retratava o esp�rito do sertanejo, a ess�ncia das coisas da terra. Paraibano, aos 15 anos, ao perder o pai, v�tima de crime pol�tico, mudou-se para Recife acompanhando sua m�e e seus oito irm�os. A� completou seus estudos fornando-se em Direito, aos 23 anos. Ainda estudante, j� lan�ava sua primeira pe�a teatral - "Uma Mulher Vestida de Sol" (1947) - � qual veio juntar-se depois a mais conhecida de suas pe�as - o "Auto da Compadecida"(1956) - que veio a ser um marco na hist�ria do teatro brasileiro. A poesia que lhes trago, � contribui��o de minha amiga L�gia Pellon Bulh�es, tamb�m apreciadora deste intelectual de �ndole e alma sertaneja, que faz quest�o de "colar sua arte no pa�s e n�o na ind�stria cultural". Vamos � poesia intitulada
A Mulher e o Reino (Com tema do barroco brasileiro)
� Rom� do pomar, relva, esmeralda., olhos de Ouro e de azul, minha Alaz� �rea em cordas do Sol, fruto de prata, meu ch�o e meu anel. C�u da manh�!
� meu sono, meu sangue, Dom, coragem, �gua de pedras, rosa e belveder! Meu candeeiro aceso da Miragem, meu mito e meu poder - minha Mulher!
Diz-se que tudo passa e o tempo duro Tudo esfarela o sangue h� de morrer! mas quando a luz me diz que esse Ouro puro
Se acaba por finar e corromper, meu sangue ferve contra a v� Raz�o e pulsa seu Amor na escurid�o!
(Poemas, 1999) Ariano Suassuna
Espero ter agradado e prometo estar atenta ao que possa interessar a meus visitantes. Apreciarei contribui��es, como foi o caso, agora, de minha amiga L�gia. Usem o sistema de coment�rio ou o e-mail para o envio de sugest�es. At� breve.
publicado
por Magaly Magalhães às 2:15 AM
21.9.02
Fiquei devendo poesia a voc�s no post anterior e n�o vou me furtar ao prazer de saldar esta d�vida. Venho com ningu�m menos do que o poeta pernambucano Jo�o Cabral de Melo Neto, representante da gera��o que se convencionou chamar "de 45" e da qual foi sua figura mais importante. Diplomata de carreira, s�o da Espanha suas mais caras lembran�as e composi��es. Nordestino, cantou em versos a tr�gica saga das secas e n�o h� nesse particular nada que se compare a "Morte e Vida Severina". Cantou o Capiberibe em versos magistrais. Transcrevo aqui o poema :
A MESA
O jornal dobrado sobre a mesa simples; a toalha limpa, a lou�a branca
e fresca como o p�o.
A laranja verde: tua paisagem sempre, teu ar livre, sol de tuas praias; clara
e fresca como o p�o.
A faca que aparou teu l�pis gasto; teu primeiro livro cuja capa � branca
e fresca como o p�o.
E o verso nascido de tua manh� viva, de teu sonho extinto, ainda leve, quente
e fresco como o p�o.
Como podemos ver, uma poesia despojada do ponto de vista verbal, de grande austeridade; qualidade indiscut�vel e alta significa��o. E para n�o me alongar demais, j� que estamos no ritmo da poesia cabralina, pincei de um jornal antigo um de quatro poemas in�ditos l� encontrados:
PRESEN�A DE SEVILHA
Cantei mal teu ser e teu canto enquanto te estive, dez anos; cantaste em mim e ainda tanto, cantas em mim teus dois mil anos. Cantas em mim agora quando ausente, de vez, de teus quantos, tenho comigo um ser e estando que � toda Sevilha caminhando.
N�o me digam que n�o gostaram. Estou querendo fazer uma surpresa pra o pr�ximo post. At� l�.
publicado
por Magaly Magalhães às 5:12 PM
17.9.02
Estou meio dispersa hoje e insatisfeita, apesar dos dois vitoriosos brasileiros no esporte: Rubinho levando a melhor em Monza e Guga restabelecendo-se na Bahia. Em compensa��o, o que rola no cen�rio pol�tico � constrangedor aqui, como nos outros estados da Uni�o. Os candidatos se engalfinham constrangedoramente. Eu n�o entendo como acusa��es frontais, quase sempre ofensivas, podem construir um perfil de pol�tico para o cargo de responsabilidade m�xima dentro de um governo democr�tico. O per�odo que antecede as elei��es � hoje, ironicamente, o tempo da desconstru��o. �s urnas, comparecem personagens reduzidas � sua express�o mais vulgar. Eu pergunto: -- Pode um indiv�duo depreciado vir a imprimir respeito � fun��o que vai executar? N�o suporto o clima de desmoraliza��o que se instala em tempo de elei��o. Tudo tem o sabor venenoso do discurso invertido, o efeito degradante do logro, quando poderia ser a mobiliza��o consciente de uma na��o que vai escolher o seu dirigente. Nossa legisla��o importada tem que ser revista, tem que se amoldar � nossa realidade. Como chegarmos � maturidade pol�tica, a um consciente exerc�cio dos direitos cidad�os?
publicado
por Magaly Magalhães às 2:38 AM
15.9.02
Gosto muito de Ad�lia Prado. Poder de s�ntese esmerado, palavra forte, met�foras na medida.Vamos a ela?
Domus
Ad�lia Prado
Com seus olhos est�ticos na cumeeira a casa olha o homem. A intervalos lhe estremecem os ouvidos, de paredes sens�veis, discernentes: agora � amor, agora � inj�ria, punhos contra a parede, p�nico. Comove Deus a casa que o homem faz para morar, Deus que tamb�m tem os olhos na cumeeira do mundo. Pede piedade a casa por seu dono e suas fantasias de felicidade. Sofre a que parece impass�vel. � viva a casa e fala.
Que tal? E esta?
b>Do amor
Ad�lia Prado
Assim que se � posto � prova, na cinza do �bvio, quando atr�s de um caminh�o vazando o homem que pediu sua m�o informa: " est� transportando l�quido". Podes virar santa se, em sil�ncio, p�es de modo gentil a m�o no joelho dele ou a rainha do inferno se invectivas: claro, se est� pingando, querias que transportasse o que? Amar � sofrimento de decanta��o, produz ouro em pepitas, elixires de longa vida, nasce de seu acre a �rvore da juventude perp�tua. � como cuidar de um jardim, quase imoral deleitar-se com o cheiro forte de esterco, um cheiro ruim meio bom, como disse o menino quanto a porquinhos no chiqueiro.
� mais que violento o amor
Inspira��o e talento! B�n��o divina! Manifestem-se, amigos, agora voc�s t�m os meios.Troquemos impress�es.Vamos juntos prestigiar o belo que nos cai nas m�os. � t�o bonita a participa��o!
Em prece, contritos, elevemos nosso pensamento ao Senhor, pedindo-Lhe paz para a Terra t�o convulsionada por guerras, �dio entre etnias, exarceba��o de poder por parte de seus dirigentes, desigualdade social. Que a humanidade se compenetre que � atrav�s do entendimento e da uni�o que se pode conseguir um estado de equil�brio para uma vida s� e construtiva.
publicado
por Magaly Magalhães às 1:01 AM
11.9.02
Nenhuma evoca��o cabe de minha parte. J� se falou amplamente sobre a trag�dia. Entendidos de todas as �reas comentaram exaustivamente o ocorrido. Sob o impacto das cenas exibidas a cru diante de tantos olhos at�nitos, a sensibilidade de uma amiga produziu a ora��o que transcrevo com rever�ncia e admira��o.
ORA��O
Um b�lide desumano Detonou teu pedestal As tuas torres de a�o Torres de areia e metal Metal do bom e do vil Metal do bem e do mal
A ti o meu bem querer O meu apoio total
Pentador, pentavingan�a Pentamaldade fatal Fruto de horrores atrozes De superarmas ferozes De incontida produ��o De um capitalismo cego Capitalismo pag�o
A ti todo o meu amor A ti todo o meu perd�o
Sustentando pentaguerras Provocando a pentafome Com os exatos recursos Que gerariam fartura Que dariam paz ao homem
A ti todo o meu carinho E a minha compaix�o
Ante a resposta inclemente De ocultas sombras sofridas Stop! Aos meios de morte Desta guerra quente ou fria Guerras bacteriol�gicas De pentagases fatais Guerras �santas�,�guerras nobres� Racistas territoriais "Gl�rias e louros imortais� E esta, a pentadescarada Sem armas, sem documentos Sem vergonha, desalmada!
A ti toda a esperan�a Sem ela nada se faz
Todos t�m m�ltiplos meios Para pentadestruir Este nosso globo on-line E todo nosso porvir S� nos resta refletir!
Toda luz, todo o saber Tudo que em mim possa ter
Ignoram uns e outros Que no �mago do ser Na pentamente doente Devem plantar a semente Que no amor fraterno jaz N�o fazer ao inimigo O mesmo que ele nos faz!
N�o manter o irm�o carente Um triste sobrevivente Pois que o sofrer o instiga E o torna mais sagaz O que nos faz vulner�veis S� inseguran�a traz
A ti a ilumina��o A ti toda a minha paz!
Ah! Pentasuperpot�ncias Ah! Meus irm�os orientais Ap�s conflitados s�culos De pentalutas letais Com vossa genialidade Rompei o estabelecido E dai fim aos arsenais!
A v�s todo o meu respeito E um mundo cheio de flores Vida e aves multicores E c�us e matas e mares Muitos encontros e amores
Como todos desejamos Como Deus o projetou!
Bouz�n Rio, 11 / 09 / 2001
Abra�os a todos; especiais para vc, Toninha, minha amiga especial.
Tenho lido os jornais - infectado a mente, enauseado os olhos - descubro, l� fora, o azul do mar e o verde repousante que come�a nas samambaias da sala e recrudesce nas montanhas.
Para que perco tantas horas do dia nessas leituras necess�rias e escarninhas? Mais valeria, talvez, nas verdes folhas, ler o que a vida anuncia.
Mas vivo numa �poca informada e pervertida. Leio a vida que me imprimem e s� depois o verde texto que me exprime.
Affonso Romano deSant�Anna
� a sensa��o precisa do ap�s leitura do jornal nosso de cada dia! Uma agulhada aqui, outra not�cia ferina ali, uma amea�a ao equil�brio (ecol�gico, econ�mico, cultural, comportamental, moral) em todas as escalas. � nesse caldeir�o escaldante que as esperan�as em um futuro de mais igualdade para todos se enfraquecem e se retraem. Sentimento negativo que n�o constr�i. Lutar cada um com for�a de que disp�e, cada um fazendo a sua parte dentro de seus limites � uma pol�tica a se adotar com vontade e pertin�cia. Vamos tentar?
Uma notinha para voc�s - > Como falhou o sistema para comunica��o entre n�s, o "Comente", resolvi colocar um "Envie-me um e-mail" para que haja intera��o em nosso trabalho.Est� em baixo da lista fos arquivos,� esquerda do texto postado, bem junto do bot�o do Blogger.
Pretendo dar uma saidinha este fim de semana; n�o estarei blogando, ent�o. L� para ter�a-feira, estarei de volta. Bom fim de semana para n�s todos.
publicado
por Magaly Magalhães às 2:44 AM
1.9.02
Ainda sob o efeito das palavras de Jabor, tenho dificuldade de voltar ao meu estado de tranq�ilidade (relativa! claro, h� algum tempo j�) e saio � procura de algo que me ofere�a esperan�a, possibilidade de recupera��o, alguma compensa��o. E parece que encontrei, gente! Nestes versos geniais de Thiago de Mello :
O Estatuto do Homem
Ato Institucional Permanente
Artigo I -Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida, e que, de m�os dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II -Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as ter�as-feiras mais cinzentas, t�m direito a converter-se em manh�s de domingo.
Artigo III - Fica decretado que, a partir deste instante, haver� girass�is em todas as janelas, que os girass�is ter�o direito a abrir-se dentro da sombra, e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperan�a.
Artigo IV - Fica decretado que o homem n�o precisar� nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiar� no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do c�u. O homem confiar� no homem como um menino confia em outro menino.
Artigo V - Fica permitido que o p�o de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que, sobretudo, tenha sempre o quente sabor da ternura. Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco.
Artigo VI - Decreta-se que nada ser� obrigado nem proibido. Tudo ser� permitido, inclusive brincar com rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa beg�nia na lapela.
Artigo final - Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual ser� suprimida dos dicion�rios e do p�ntano enganoso das bocas. A partir deste instante, a liberdade ser� algo vivo e transparente, como um fogo ou um rio, ou como semente do trigo, e a sua morada ser� sempre o cora��o do homem.
(JB, 06/07/98)" - Thiago de Mello -
Acho que deu para levantar o �nimo, ou melhor, para orientar, apelar para que cada cidad�o perceba que suas rela��es com o mundo, com o pr�ximo, com a vida t�m que mudar . � necess�rio estudar nessa cartilha e cumprir � risca o exerc�cio dessa liberdade viva.