Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
O post de hoje seria um breve estudo sobre a origem das trovas e sua evolu��o. N�o tive, por�m, tempo de preparar um texto leve em que pudesse resumir todos os dados necess�rios.
Aproveito, ent�o, e fa�o deste espa�o um segundo instante de saudade, reportando uma experi�ncia pessoal que me conferiu uma imensa paz de esp�rito.
Como voc�s sabem, temos optado por crema��o quando da morte de algum membro da fam�lia desde que ele tenha manifestado de alguma forma esta prefer�ncia. Na semana passada, resolvemos cumprir a tarefa de dar �s cinzas de meu esposo seu abrigo definitivo. E decidimos repetir o que fiz�ramos com as de meu filho h� pouco mais de dois anos e meio: lan��-las ao mar de Gerib�, em B�zios.
O dia estava um esplendor, o mar coalhado de gaivotas, uma brisa suave, um sol outonal, muita luz, muita paz. Tomamos um barco que singrou suave dividindo as gaivotas, sulcando as �guas cristalinas que deixavam vis�vel um fundo arenoso e claro.
A certa profundidade, cinzas ao mar. Viv�ncia repetida. Apaziguamento. Serenidade.
A experi�ncia resultou no poema que deixo com voc�s:
CINZAS
Azul liquefeito, solar, salino Ariscas gaivotas sobre a superf�cie espelhada Adejar de asas em negros leques
Opon�ncia de azuis profundos, infinitos Recanto de soberbo encanto Para a vida, para restos de vida.
Ar, �gua, sal, marulho, cinzas... Reintegra��o ao mundo calc�reo Ber�o de novas vidas
Voltarei ao estudo das trovas no pr�ximo post. At� l�.
publicado
por Magaly Magalhães às 2:26 AM
22.6.06
VIVA! Viva o dia 23 de junho, o anivers�rio da MEG, gente! Vamos comemorar adequadamente, com um banquete de rosas.
De que maneira mais apropriada poder�amos faz�-lo? Trata-se finalmente da preciosa dama cuja identidade repousa sob o s�mbolo da rosa. Ent�o n�o � ela a dign�ssima propriet�ria do mais aplaudido e respeitado blog de toda a blogosfera, o SUBROSA?
Sua paix�o � altura do culto �s rosas? Poesia.
Fa�amos, ent�o, a festa completa:
*Que fa�o deste dia, que me adora? / Peg�-lo pela cauda, antes da hora / Vermelha de furtar-se ao meu festim? / Ou coloc�-lo em m�sica, em palavra, / ou grav�-lo na pedra, que o sol lavra? / For�a � guard�-lo em mim, que um dia assim...*
*Quero conhecer a m�e-d��gua / que no claro do rio penteia os cabelos / com um pente de sete cores / Salve salve minha rainha, / � clemente � piedosa � doce Virgem Maria, / ?Como pode uma rainha ser tamb�m advogada.*
*Tinta, lavo-te os antebra�os, Vida, lavo-me / No estreito-pouco / Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida.*
*Saio de meu poema / como quem lava as m�os. / Algumas conchas tornaram-se, / que o sol da aten��o / cristalizou; alguma palavra / que desabrochei, como a um p�ssaro.*
*Abrandar os tuf�es dos espa�os, / acabar com os tiranos do mundo. / Poeta, podes fazer. / Extinguir a palavra de Deus, / afastar a verdade da terra / Poeta, n�o podes fazer.*
*Por que n�o o bebi quando o encontrei / no rosto amado, um mundo � m�o, ali, / aroma em minha boca, eu s� seu rei? / Ah, eu bebi. Com que sede eu bebi / Mas eu tamb�m estava pleno de / mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei.* (Tradu��o de Augusto Campos)
*Onipresente / Melancolia / Que entre a alegria / Sorris prudente. / Sombra latente / � luz do dia, / Mudez sombria / Que o som pressente.*
*Poesia � quando a tarde est� competente para / D�lias. / � quando / Ao lado de um pardal o dia dorme antes.*
*Deus � mais belo que eu./ E n�o � jovem./ Isto sim, � consolo*
*O mundo estava no rosto da amada. / e logo converteu-se em nada, em / mundo fora do alcance, mundo-al�m. / Por que n�o o bebi quando o encontrei / no rosto amado, um mundo � m�o, ali, / aroma em minha boca, eu s� seu rei?*
*Basta-me um pequeno gesto, /feito de longe e de leve, /para que venhas comigo /e eu para sempre te leve... *
*Parecia um p�ssaro, um fr�mito / de folha, uma l�b�lula, /uma coisa evanescente / e vol�til:/ n�o era nada, um pensamento / de amor?* (Fico devendo a foto de Marly de Oliveira).
Passaria horas a pin�ar trechos po�ticos para a nossa homenageada ( Como ela merece!). Vou deix�-la entre o perfume das rosas e a atmosfera dos versos, porque sei que sua felicidade reside nessas filigranas sentimentais que mobilizam sua alma afeita ao que � fino e delicado.
Toda a felicidade do mundo para voc�, querida amiga, � o meu desejo e o de toda a corrente blogueira.
Sinta-se maravilhosa entre alguns de seus poetas favoritos.
publicado
por Magaly Magalhães às 10:10 PM
14.6.06 DE TROVAS
Vamos tentar construir umas trovinhas como treino para o concurso que vai ser lan�ado no segundo semestre? Um ensaio, um treino, como queiram. Vamos, por�m, conhecer o que � necess�rio saber sobre trova, seu significado, suas origens, um pouco de seu hist�rico. Aur�lio diz: Trova 1.Composi��o l�rica, ligeira, mais ou menos popular; 2.Can��o, cantiga , quadra popular. Ao que podemos acrescentar: composi��o de 4 versos de 7 s�labas cada um (m�trica pr�pria de composi��es populares), rimando mais comumente o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto (rima ABAB) e contendo um sentido completo. Difere por esta raz�o de quadras que comp�em um poema de v�rias estrofes (mesmo de versos heptass�labos). Uma trova gira em torno de um motivo ou tema, encerra-se em seus quatro versos.
Chamo aten��o para a maneira como se contam as s�labas de um verso. A contagem se processa diferentemente da an�lise gramatical. Nesta, observa-se sua representa��o na escrita; na do verso, busca-se a realidade auditiva. Por exemplo, no verso anda o sol pelas campinas, o gram�tico contaria nove s�labas enquanto para o poeta h� somente sete s�labas, a saber:
an / da o / sol / pe / las / cam / pi /
Como v�em, o poeta liga o d ao o desprezando o a, na altura da segunda s�laba. E, na palavra final, s� conta at� a s�laba t�nica pi.
Umas trovas como exemplos:
Segredos de amor ...Tolice! Ningu�m consegue esconder Aquilo que o olhar j� disse Antes de a boca dizer!
Carolina Ramos
Em resposta � malvadeza Com que o ser humano a atenta, Floresce a m�e natureza D� frutos...e nos sustenta!
Cynira Antunes de Moura
Da minha amiga de trovas lindas, a Toninha, deixo estas duas para dar �gua na boca:
Mentira vira verdade Verdade vira mentira Em tempos de falsidade Palavras dan�am o'Vira'.
Erradicando os conflitos E a corrup��o que impera, Transformaremos a vida Em risonha primavera
Querem treinar nelas a contagem das s�labas? (Recomendado)
Est� visto, ent�o, que para come�ar a fazer trovas, � bastante observar os preceitos acima e usar a imagina��o.
Quem quiser come�ar a tentar, � s� me mandar as trovinhas por e-mail que, no pr�ximo post, publico cada uma, acompanhada do devido cr�dito.
S�o estas, portanto, as atividades sugeridas: treinar a contagem e compor uma ou duas trovas.
Da pr�xima vez, veremos um pouco sobre a origem e dados hist�ricos das trovas.
Bom, j� que est�o todos em ritmo de copa, e, portanto, euf�ricos e felizes, voc�s podem me conceder um instante para uma esp�cie de Hora da Saudade?
A MEU IDO AMOR
Eu sabia da grandeza que sua alma guardava. Ah!... n�o percebia tudo que sua alma calava.
Doces anos fecundaram o lar que desabrochou . em risos e gorgolejos e em faina se tornou.
Houve riscos e tristezas, risos, prazeres, saudades, tempo suficiente e calma
de articular as certezas. de desvelar as verdades que ele calava na alma
12 de maio de 2006 Rio de Janeiro
Com beijos de agradecimento pela concess�o.
publicado
por Magaly Magalhães às 7:55 PM
3.6.06
*Escrevo para dar sentido � minha vida, mas o que importa � a vida*
*... (a poesia) fala de coisas essenciais, do enigma da vida, de experi�ncias existenciais intensas, ainda que moment�neas.*
� isso mesmo; vou l�, venho c�, torno a ir, torno a voltar e volto por fim �s fontes que geram preciosidades com esta aqui, por exemplo:
UMA PEDRA � UMA PEDRA
uma pedra (diz o fil�sofo, existe em si, n�o para si como n�s)
uma pedra � uma pedra mat�ria densa sem qualquer luz n�o pensa
ela � somente sua materialidade de cousa: n�o ousa
enquanto o homem � uma afli��o que repousa num corpo que ele de certo modo nega pois que esse corpo morre e se apaga
e assim o homem tenta livrar-se do fim que o atormenta
e se inventa
Voc�s sabem que falo do festejado poeta Ferreira Gullar. A partir desta poesia pertencente a uma nova safra, ele *reafirma a op��o de trabalhar a linguagem coloquial num registro elaborado*
*A maneira como me relaciono com a linguagem modifica-se em fun��o da pr�pria experi�ncia com as palavras e os poemas. A mat�ria da minha poesia tem sido a linguagem coloquial, as palavras de uso corriqueiro. O Poema � o lugar onde a prosa vira poesia, � um artefato constru�do de modo que a energia potencial, que est� nas palavras, acenda e vire uma outra coisa, transfigurando a linguagem usual.* Estes trechos foram colhidos de uma excelente entrevista por Ricardo Musse no n� 1 da revista Entrelivros (maio de 2005).
Ali�s, a revista Entrelivros , al�m da boa apresenta��o, � especial em todos os seus itens: artigos, resenhas, colunas, reportagens, entrevistas, se��es. Quem me colocou nas m�os esta preciosidade (adivinhem?). S� podia ser nossa orientadora cultural: a extraordin�ria MEG.
E, agora, quero anunciar minha inten��o de voltar � t�o arejada forma de versejar que � a TROVA, que voc�s h� pouco tempo aceitaram de bom grado, entrando no concurso infelizmente planejado num momento pouco favor�vel de minha vida e que, por tal raz�o, foi � garra, teve que ser interrompido.
Eu mesma n�o sei se j� estou com fibra para enfrentar tal fa�anha. Ent�o, vamos antes de tudo, preparar o clima, conversando sobre o assunto, falando sobre os tipos de trova, apresentando trovas de autores consagrados. Acho que assim vai haver um bom est�mulo pra n�s todos.
Vou at� me precipitar e j� deixar aqui umas trovinhas bem gostosas de uma amiga/irm� (h� mais de meio s�culo) cuja verve aumenta com a idade.
O amor anda escaldado. A esperan�a nem falar. A paz de s�bito alada Foi noutro astro pousar
Povos descendo aos infernos, Os mesmos que Deus criou. Que gente insensata � essa Que o bom senso dissipou!
Que tal? Por ora, n�o revelo a artista, mas dou o apelido com que carinhosamente a chamo: Toninha. Vou traz�-la muitas vezes aqui. N�o quer nada com inform�tica; � da roda dos poetas e artistas.
Houve mais de uma pessoa propondo que eu repita o item Atividade. Vamos l�. Respondam por e-mail, ok?
ATIVIDADE:
a) De quem � este poema e qual seu t�tulo?
Aqui me tenho Como n�o me conhe�o nem me quis
sem come�o nem fim
aqui me tenho sem mim
nada lembro nem sei
� luz presente sou apenas um bicho transparente
b)Pr�mio / participa��o: Duas trovas bem transadinhas.
Para alegrar os olhos de voc�s:
COMPOSI��O / C�cero Dias publicado
por Magaly Magalhães às 10:41 PM