Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
Sim, amigos, hoje é dia de amenidades. De vez em quando, a gente precisa regredir no tempo, sair da real, falar besteirol, perambular por aí, brincar enfim.
Pois bem! Vão preparando os pulmões que vou fazer uma convocação geral. Convido os que têm fôlego melhor do que o meu a me ajudarem a apagar as velas do meu bolo de aniversário no próximo dia 7 de março. Nem são tantas assim! São somente 78 trêmulas velinhas que insistem em ser apagadas ao som de um alegre Parabéns pra Você. Posso contar com vocês para a festinha? Apressei-me a fazer o convite antes que o Orkut e o Multiply anunciem o venturoso evento, ok?
E vamos por aí catar ditos, colher rimas, inventar modas, descarregar a alma, entoar cantigas, espraiar bom-humor. Vamos?
Logo de saída, um alerta: meu monitor está com síndrome de HULK!!!. Sem mais nem menos, perde as cores originais e tinge-se de verde escuro. O fundo fica verdão e as demais cores, combinadas com o tal verde, dão um aspecto horrível às imagens. Quem sabe me dizer se esta doença tem cura? Meu monitor só tem 3 anos de uso!
*Quem trai seu amor por vaidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.* (Vinicius de Moraes)
RAPTO
Ia tocar meus lábios mas o trem, o circo, a fome dos meninos, o garçon, a praça. Nunca mais sua mão. (Eucanaã Ferraz)
SOBRE TODAS AS COISAS (Edu Lobo / Chico Buarque)
Pelo amor de Deus não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem não vê que Deus até fica zangado vendo alguém abandonado pelo amor de Deus
Ao Nosso Senhor pergunte se ele produziu nas trevas o esplendor se tudo foi criado:o macho, a fêmea, o bicho, a flor criado pra adorar o Criador
E se o Criador inventou a criatura por favor se do barro fez alguém com tanto amor para amar Nosso Senhor
Não, Nosso Senhor não há de ter lançado em movimento terra e céu estrelas percorrendo o firmamento em carrossel pra circular em torno ao Criador
Ou será que o Deus que criou nosso desejo é tão cruel mostra os vales onde jorra o leite e o mel e esses vales são de Deus
Pelo amor de Deus não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem não vê que Deus até fica zangado vendo alguém abandonado pelo amor de Deus.
Pra finalizar o recreio de hoje, uma piadinha inofensiva:
RESOLVENDO O PROBLEMA
Vão quatro engenheiros no carro, quando este enguiça. Cada engenheiro dá sua sugestão: Engenheiro mecânico: A caixa de velocidades deve ter quebrado. Engenheiro químico: Não concordo. O problema está na composição do combustível. Engenheiro eletrotécnico: Nada disso! É a bateria que está descarregada. Engenheiro informático: E se nós saíssemos e entrássemos novamente? (Colhida de um e-mail recebido recentemente)
Só agora pude escrever alguma coisa pra meus amigos.
Sempre que me pego precisando de poesia, recorro à Cecília Meireles, uma das poetisas mais afinadas com o sentimento humano, com a vida. Paulo Mendes Campos, ao selecionar os poemas que comporiam a antologia Flor de Poemas, afirmou: não há poeta moderno em língua portuguesa mais harmonioso do que Cecília Meireles; do princípio ao fim, com o mesmo fino fio de seda a incomparável artífice-e-artista teceu as suas peças inconsúteis. Com um par de palavras, Manuel Bandeira sentenciou: libérrima e exata. Assim é que uso constantemente os versos de Cecília cá, em meu canto, na intimidade de meus devaneios. Mas Cecília tem uma valiosa obra em prosa. Da época em que escreveu para o Diário de Notícias (1930 / 1933), por exemplo, há preciosas crônicas sobre conceitos gerais de vida, educação, liberdade, beleza, cooperação e universalismo. Destaquei esta pra hoje.
O CONCEITO DE VIDA
Não há muito publicamos neste jornal um capítulo do trabalho de Jean Piaget sobre a criança e sua representação do mundo. Escolhemos a parte em que se procura saber o seu conceito sobre a vida. Nela vinham sugestivas respostas de muitas crianças consultadas, e todas essas respostas tinham o mesmo equilíbrio e demonstravam a existência de um mesmo nível do pensamento infantil, mesmo através os graus de desenvolvimento estabelecidos pelo ilustre psicólogo. Queremos hoje apresentar, porém, as respostas absolutamente inesperadas que recebemos, de uma menina brasileira, de sete anos e três meses de idade, respostas que nos foram dadas com uma naturalidade assombrosa, e que por instantes nos fizeram o pensamento oscilar sobre aquela informação de Lafcadio Hearn a respeito da consulta que os japoneses tradicionalmente fazem às criancinhas do seu país, no dia em que completam dois anos, sobre a origem de sua vida, e o mundo de que vêm. Nosso pensamento oscilou assim, porque a menina com quem falávamos pôs na sua linguagem uma seriedade que perturbava. Parecia que tinha dentro de si conhecimentos misteriosos e que achava fútil e cheia de ignorância a pergunta de quem a interrogava. O diálogo, num ambiente de total isenção, levava o ritmo do método clínico recomendado por Piaget. Era preciso nada sugerir. A pergunta foi decalcada nas suas: Tu achas que o sol vive? A pequena olhou-nos como de um outro mundo. E disse com uma convicção quase mística: Vive. Por quê? As crianças do livro de Piaget respondem: porque se move, ou porque caminha, ou porque queima... Esta não. Esta foi à causa primária, e disse-me: Como é que posso saber por quê? Talvez ele é que saiba... Ora, entre o primeiro porquê superficial que caracteriza a vida, e este segundo, que a explica, vai uma distância enorme. Mas ainda insistimos: E a água, também vive? Aí surgiu uma explicação que achei notável. A menina, olhando para longe, como abrangendo todo o universo, disse-me esta coisa. A água também vive. Tudo vive. Se não vivesse, não estava no mundo. Como é que podia estar no mundo, se não vivesse? Eis aí um conceito de vida que eu não esperava encontrar numa criança de sete anos e três meses. Não quero discutir o valor filosófico do conceito. Mas sua significação psicológica, comparada com a das crianças analisadas por Piaget, e mesmo com a visão de muitos adultos, sobre o mesmo tema, parece-me digna de atenção especial. Tudo, pois, que está no mundo, segundo essa menina, vive. A prova de que vive é essa: estar, ser. Quanto ao porquê dessa vida, confessa a incapacidade de o definir. Sente, apenas, que a razão é profunda. Que não a atinge. E confia-a simplesmente à própria vida
(Rio de Janeiro, Diário de Notícias,24 de janeiro de 1931)
E porque falamos de poesia e porque falamos da poesia de Cecília Meireles, quem há-de? Resistir? Nunca!
NÓS E AS SOMBRAS
E em redor da mesa, nós, viventes, comíamos e falávamos, naquela noite estrangeira, e em nossas sombras pelas paredes moviam-se, aconchegadas como nós, e gesticulavam, sem voz.
Éramos duplos, éramos tríplices, éramos trêmulos, à luz dos bicos de acetilene, pelas paredes seculares, densas, frias, e vagamente monumentais. Mais do que as sombras éramos irreais.
Sabíamos que a noite era um jardim de neve e lobos. E gostávamos de estar vivos, entre vinhos e brasas, muito longe do mundo, de todas as presenças vãs envoltos em ternura e lãs.
Até hoje pergunto pelo singular destino das sombras que se moveram juntas, pelas mesmas paredes... Oh!, as sem saudades, sem pedidos, sem respostas... Tão fluidas! Enlaçando-se e perdendo-se pelo ar... Sem olhos para chorar...
De Mar absoluto / Flor de Poemas / Coleção Poiesis / Editora Nova Fronteira
Antes de pensar num tema para hoje, quero chamar a atenção de meus leitores para o apelo partido de nossa companheira Fal, em favor de uma família que teve seus bens roubados no curso de um vil assalto. Toda a história , vocês podem ler clicando no selo Rifa Literária, à esquerda (logo abaixo do selo F&C), onde vocês encontrarão o procedimento para participar da rifa. E olhem que os objetos a serem rifados são sedutores!
Agora, vamos à matéria de hoje. Longe do carnaval, aqui, no meu cantinho, onde meu pensamento voa livre e volta, torna a voar e retorna ao ponto de partida, às vezes, eu converso comigo mesma sobre esses alheamentos na vida da gente, períodos de estagnação em que nada se consegue fazer de objetivo, em que até pensar é um fardo pesado demais. Ando num desses estágios. Luto para sair dele o mais rápido possível. São dias neutros, anêmicos, sem cor. E com tanta coisa a ser projetada, tanta leitura a ser posta em dia, tantos apelos, como o que acabei de relatar acima, que nos mobilizam, que exigem ação e espírito de solidariedade. Não, não vão na minha conversa. Já vai passar.
Pronto. Passou. Ora, tinha que passar, pois sabem o que tenho em minhas mãos? O livro em que Mário Prata nos dá suas versões sobre a origem de vários provérbios e certos ditos populares brasileiros. Vejamos:
A mentira tem pernas curtas = descobrem logo quando a gente mente.
Esta expressão nos vem de Paris, no final do século antepassado. Henri Toulouse Lautrec, pintor francês, era famoso pelas histórias que contava nos bares parisienses de Pigalle, entre uma litografia e outra. Dizem as resenhas da época que mentia tão bem quanto pintava cartazes de shows. Como todos sabem, Lautrec tinha um defeito físico: pernas curtas.
Desculpa de aleijado é muleta = desculpa fajuta.
Em Sevilha, em 1878, um dos maiores toureiros da Espanha, Carmelito Gonzáles y Gonzáles, El Rompedor, quase morreu ao ser atacado por um miúra bravíssimo e ficou aleijado para o resto da vida. E punha a culpa na muleta, que havia quebrado. Muleta é aquela vara com que o toureiro suspende a capa para atiçar o touro. A partir daí, passou a usar outro tipo de muleta e a expressão ficou conhecida.
Guardar a sete chaves = guardar muito bem guardado, praticamente, esconder.
Chaves era o subordinado do Chalaça. Chalaça ficava responsável pela agenda do imperador, que era reservadíssima. Tinha que ficar muito bem escondida. E todo dia, quando terminava o expediente no palácio, lá pelas sete da noite, Chalaça sempre lembrava ao Chaves: *Guardar às sete, Chaves.*. (Fonte: Roberto Torero em seu maravilhoso livro sobre Chalaça, pela Companhia das Letras).
Do livro MAS SERÁ O BENEDITO? de Mário Prata.
Pra não dizerem que descartei o poema nosso de cada dia:
SE NÃO FOSSE, SERIA
Se eu fosse uma cor, vermelha uma flor, tulipa um bicho, à espreita
Se eu fosse uma música, sem dó um sabor, hortelã um livro, interminável uma fruta, madura
Se eu fosse uma estrada, sem fim uma estrela, cadente...
Claudia Letti, do livro Onde não se responde
Finalmente, para não reclamarem que passei por cima do Carnaval, transcrevo aqui uma mensagem que me mandou o amigo Cláudio Rúbio. Muito oportuna, muito bem arquitetada, o garoto é bom! Isso é Carnaval!
Estou passando rapidamente para dar um aviso da parte de Meg. Ela se encontra, no momento, sem conexão. Pede que seus leitores entendam a momentânea interrupção e avisa que estará no Sub Rosinha assim que receber sinal verde da empresa que a serve. A espera será de, no mínimo, 24 horas. Vamos aguardar que aí vem material do bom em forma de textos, curiosidades, notícias fresquinhas.
Enquanto isso não acontece, leiam os versos limpos e os palíndromos que apanhei no Pro Tensão, de César Miranda. Aqui, certo? Sei que vão apreciar.
FOLHAS DE ÁRVORES E LIVROS Versos limpos
As folhas
Amareladas
Caem.
Quantas
Páginas terão
Essas
Árvores?
E as folhas
De meu
Livro,
Darão frutos?
PALÍNDROMOS GRANDES
A capacidade dá dica paca
A diva parece de cera, pávida.
A tropa não tá à toa na porta
Matam a pata a tapa, a tapa a pata matam.
Vou embora, está na hora, a não ser que vocês queiram ler, rir e refletir comigo ainda um pouco, que tal? Tomemos o humor e a sagacidade do Fábio Danesi Rossi nessas sentenças:
Plural é coisa de elite. Povo mesmo vive no singular.
Vida. Diversão garantida ou sua morte de volta.
Dor na coluna. Maldito e covarde corpo humano. Sempre atacando pelas costas.
Entre uma pipoca e outra, ela comentou: *A guerra é tão bonita. Pena que mata.*