Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
Este post é dirigido a quem quer afiar o ouvido para fazer trovas.
Trovas de escritores consagrados:
1 Saudades, só portugueses Conseguem senti-las bem Porque têm essa palavra Para dizer que as têm
2 A vida é um hospital Onde quase tudo falta. Por isso ninguém se cura E morrer é que é ter alta.
3 O poeta é um fingidor, Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
4 "Oh, linda trova perfeita, que nos dá tanto prazer! Tão fácil, depois de feita, tão difícil de fazer! ..."
Adelmar Tavares
5 As garotas se banhando: belo quadro sem moldura. Para vê-lo emoldurado eu olho na fechadura.
Vão Gogo (Millor Fernandes)
6 Vá que se louve a formiga, e à cigarra se condene... Mas, quem teceu essa intriga foi a cigarra. La Fontaine!
Pe. Celso de Carvalho
7 A beleza não te atrai? Só te casas por dinheiro? Tu pensas como teu pai, Que morreu velho e... solteiro.
Belmiro Braga
8 São sentidos, são tristonhos os versos do trovador. quem se alimenta de sonhos, nunca se farta de amor.
César Coelho
9 Tu fingiste que me amaste, eu fingi que acreditei. - Foste tu que me enganaste ou fui eu que te enganei?
Benedicta Melo
10 A saudade é luz da lua, luz que a tristeza gelou, a iluminar os caminhos por onde o sol já passou.
Djalma Andrade
Trovas de autores desconhecidos
1 Eu não quero, nem brincando, dizer adeus a ninguém: quem parte, leva saudades, quem fica, saudades tem.
2 Se onde se mata um homem pôr uma cruz é preceito tu deves trazer, Maria, um cemitério no peito.
3 Você diz que sabe muito, há outros que sabem mais; há outros que tiram pomba do laço que você faz.
4 Samburá cheio de peixe, orgulho do pescador. Quatro versos num só feixe, orgulho do trovador.
5 Minha casinha caiada, casinha de pescador, tem no alpendre a rede armada, para embalar meu amor.
Leiam em voz alta, sentindo o ritmo e contando as sílaba. Assim, ó:
mi-nha-ca-si-nha-cai-a (só se conta até a tônica da última palavra)
ca-si-nha-de-pes-ca-dor (vai até a última dor/tônica)
tem>-noal-pen-drea-re-dear-ma (ligação de sil/ átonas na 2ª e na 4ª)
pa-raem-ba-lar-meu-a-mor (a 2ª é junção de silabas átonas)
Digam a verdade: não é gostosinho fazer essa contagem? Então treinem e até lá.
As rosas da imagem de hoje têm uma dona. Elas vão para a Meg que é louca por rosas. publicado
por Magaly Magalhães às 10:25 PM
19.7.06
CONCURSO DE TROVAS
Meninas e meninos
Chega de ensaio e conversa em torno do assunto. Acho que chegou a hora da tão anunciada competição. Vamos à luta?
Vocês terão até o dia 5 de agosto para mandar de 1 a 5 trovas com escolha livre sobre temas, como: vida, sonho, alegria, lágrima, coração, saudade, flor, esperança etc
Podem enviar o material diretamente para o meu endereço de e-mail (magcm@oi.com.br),juntamente com um pseudônimo.
À proporção que chegarem, as trovas passarão a figurar numa lista, que será constantemente atualizada e, no fim do prazo da remessa, posta à disposição de todos os participantes do evento assim como daqueles que comparecerem como simples espectadores.
Será escolhida uma comissão julgadora entre blogueiros conhecedores do assunto, brevemente posta ao conhecimento de todos. Esta comissão acatará os votos acumulados e dará a palavra final sobre os vencedores.
Assim sendo, definidos os pontos fundamentais de nossa contenda, vamos ao trabalho com alegria e desprendimento.
Aos ganhadores, 6 DVDs distribuídos pelos 5 primeiros colocados: 2 ao que conquistar o 1º lugar e 1 para cada um dos 4 seguintes. São eles:
CHOCOLATE
AS HORAS
O TALENTOSO RIPLEY
TERRA DE NINGUÉM
JACKIE BROWN
POLLOCK
Estarei aqui à disposição de vocês para qualquer dúvida. Neste site, vocês vão encontrar noções detalhadas sobre contagem de sílabas e variedade de rimas. Dá uma boa ajuda.
Estamos entendidos? publicado
por Magaly Magalhães às 11:50 PM
7.7.06
ATempo: Grupo jovem que se dedica a apresentações de música medieval.
Da origem das trovas
Consegui reunir umas ligeiras notas sobre o histórico das trovas. Deixo-as com vocês, a título de ilustração, para vocês entrarem no exercício do trobar conhecendo suas origens.
Para falar sobre trova, devemos remontar aos primórdios da literatura provençal. O latim falado na Gália cedo se dividiu em dois grupos: um do norte, do rio Loire, chamado langue d´oil e o do sul, langue d´oc ou provençal. Abrangendo vários dialetos, sem domínio geográfico, a língua d´oc ou ocitana estendia-se não só sobre a Provença, mas a toda Midi (sul da França), tendo sido e o instrumento expressivo dos trovadores medievais.
É suposto que essa forma literária se tenha constituído no final do século XI, época à qual pertencem os mais antigos manuscritos em provençal. A partir do século XV, a língua provençal entra em decadência, quando a Provença é integrada à França sendo, destarte, substituída pelo francês.
A poesia lírica em língua provençal é a poesia mais antiga da Europa moderna. Foi enorme a sua influência e está nas origens das literaturas francesa, portuguesa, espanhola, italiana e alemã. Introduziu na literatura universal o mais tratado de todos os temas: o do amor.
Tentando explicar as origens da literatura poética provençal, alguns estudiosos dão-na como dependente da poesia latina da última antiguidade, do paganismo decadente. Outros imaginam uma espécie de secularização da poesia religiosa medieval, tendo a Virgem como objeto de culto, mais tarde substituída pela dona amada. Outros ainda acreditam na influência árabe (Cancioneiro de Alun Guzmán). Mas há também os que preferem acreditar em partenogênese da poesia provençal, criação original dos trovadores.
A expressão provençal é, na realidade, inexata. Trata-se mais geralmente da poesia ocitana, em língua doc, do sul da França atual, como dissemos acima. Há aproximadamente cem poetas de que temos poesias; só vinte e oito são da Provença propriamente dita.
As palavras trovador (poeta) e trova (poesia) parecem derivar do latim medieval tropus que significa motivo (musical). Possuímos duzentos e quarenta e quatro sons ou melodias que acompanham as poesias. A versificação era tão estritamente codificada como seria, mais tarde, a composição musical.
Um fato curioso é que o amor cantado pelos trovadores também era codificado em espécie de leis. Havia certas maneiras de se dirigir à domna ( domina, dona) e eram diferentes as linguagens dos quatro graus de poetas: o fenhador ( adorador tímido), o preador (que pediu amor), o entendedor (cujo amor estava reconhecido pela dona) e o drut (amante). Tantas leis e normas e tanta técnica parecem quase excluir o sentimento sincero. No entanto, foi a poesia provençal que criou o amor como mito do Ocidente, o amor como paixão sexual, embora sublimado.
Não só o amor é cantado nas trovas. Há o diálogo entre cavalheiro e pastora; o diálogo sobre a casuística do amor; a canção de separação dos amantes na madrugada; a poesia de sátira política ou religiosa; e a elegia fúnebre.
O trobar clar diz de modo direto e em termos realistas o amor (real ou imaginário). O trobar clus é a poesia fechada, hermética, precursora da poesia de Mallarmé e de toda a poesia moderna.
Vamos, então, a mais uns exercícios de composição de trovas, não esquecendo que elas se apresentam como quadras de sete sílabas (rever posts dos dias 3 e 14 de junho), as mais das vezes de gosto popular, que se encerram em um tema dado, como: amor, alegria, felicidade, saudade, dor, sonho, desejo, decepção, ironia, natureza, paisagem, comportamento, ação política e muitos mais.
Quem quiser tentar, pode mandar-me algumas, por e-mail, que devolvo com as devidas correções. Assim, vocês entrarão em campo em pé de igualdade, contando com as mesmas informações e...haja coração! Os prêmios são bem legais. Basta dizer que foram produzidos por mão de mestre(a).
Depois de um razoável tempo de ensaio, que visa aos candidatos com menos experiência em versificação, lançarei as regras do concurso e... tchan... tchan... tchan... !!! Vamos ver quem leva essa!
Quero chamar a atenção de vocês para o seguinte: a trova tem várias faces. Há as trovas líricas que falam de sentimentos de amor, gratidão, amargura etc ; há as trovas filosóficas que giram em torno de um pensamento, de ensinamentos; e há as trovas humorísticas, feitas para fazer rir.
Agora, é trabalhar analisando as trovas que deixo aqui, como exemplos, armando outras de acordo com a própria inspiração. Não deixo temas. Dentre os apontados aí em cima, façam uma escolha livre e...mandem brasa que eu espero em ponto de pré-ebulição. Aê, gente boa!!!
Algumas trovas para atiçar vocês:
Quanto é forte o meu desejo nesta afeição insensata: morro, porque não te vejo e sei que ver-te me mata.
José Albano
Vou pelo braço da noite, levando tudo que é meu: a dor que os homens me deram e a canção que Deus me deu.
Cecília Meireles
Qual seria o anel do poeta, se o poeta fosse um doutor Uma saudade brilhando na cravação de uma dor...
Catulo da Paixão Cearense
Se eu pintasse minha infância, pintava: - num sol de estio, a sombra de uma ingazeira debruçada sobre um rio...
Adelmar Tavares
Até mais.
publicado
por Magaly Magalhães às 10:02 AM