Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
Roses in a Champagne Glass Oil Painting Edouard Manet
Este � um post especial, para uma pessoa especial, num dia especial�ssimo. Isso mesmo, o dia em que nasceu Maria Elisa Guimar�es, hoje, nossa Meg blogueira, nossa embaixadora nos dom�nios cibern�ticos, nossa grande amiga virtual. A Meg que se inebria com a poesia de M�rio Faustino, Jorge de Lima, Paul Celan, Dorothy Parker; que se encanta com a prosa de Benedito Nunes, Haroldo Maranh�o, Guimar�es Rosa (de quem carrega uma bela cita��o em seu e-mail); que vibra com Umberto Eco, �talo Calvino, Paulo R�nai e tantos nomes not�veis. Falo tamb�m da Meg cin�fila, entusiasmada com Almod�var e Tarantino; com Natasha Kinski, Gael, um imenso cortejo de diretores e atores antigos e atuais. Falo de todas as facetas de sua irriquieta personalidade, do seu perfil de mestra e orientadora, de sua incompar�vel capacidade de fazer amigos, de sua elegante maneira de conviver virtualmente com pessoas t�o diversas. Dotada de uma personalidade incomum, Meg escreve seus posts com vivacidade, sabedoria e profundidade admir�veis. Seu esp�rito culto, seu amor �s letras, sua agilidade de pensamento reflete-se no que produz, sempre presente a marca inconfund�vel de seu grande talento.
Feliz anivers�rio, car�ssima amiga e mestra! Continue abrindo nossos olhos para horizontes renovados, com a nobreza de suas atitudes, dentro de seu destino talhado para amar incondicionalmente a palavra, a imagem, o ser humano.
Em sua homenagem, Meg:
OFERTA
M�rio Faustino
Tremenda fortaleza traz consigo A l�cida quest�o que me prop�e O olhar que algum olhar ofende, oprime; Seja qual for o pre�o de teu reino Levo comigo a gl�ria de teu gesto E o poder dessa id�ia que te acende, Brilha atrav�s de ti, te magnifica.
Assim a luz mais nobre paira em torno De ti quando te voltas ao meu canto. Assim a voz que abole a voz do mundo E de outros mundos sopra sobre ti, Transfigura o palor de teus aug�rios, O mitrado fulgor de tua fronte E o cetro do teu torso que n�o dobram Os desafios deles, seus insultos.
Porque s� tu seguiste Meu rastro de alegria;
Porque s� tu soubeste Despir todo disfarce;
Porque nenhum sepulcro P�de emprestar-te alvura
Meu herdeiro do verbo, dou-te o p�ssaro De ferro que lavrei sobre a verdade Da chama que por mim roubaste ao tempo.
Do LIVRO DE SONETOS
Jorge de Lima
N�o procureis qualquer nexo naquilo que os poetas pronunciam acordados, pois eles vivem no �mbito intranq�ilo em que se agitam seres ignorados.
No meio de desertos habitados s� eles � que entendem o sigilo dos que no mundo vivem sem asilo parecendo com eles renegados.
Eles possuem, por�m, milh�es de antenas distribu�das por todos os poros aonde aportam do mundo suas penas.
S�o os que gritam quando tudo cala, s�o os que vibram de si estranhos coros para a fala de Deus que � sua fala.
UMA VEZ
Paul Celan
Uma vez ouvi-o, e ele lavava o mundo, invis�vel, noite-adentro, real.
Um e Infindo, destru�do, eu-tru�do.
Luz havia. Salva��o.
Meg, sei que falo pelo blogverso inteiro:
PARAB�NS PRA VOC� nesta data querida! Felicidades.
publicado
por Magaly Magalhães às 12:06 AM
17.6.04
Foto do Maracan�
DO DIA-A-DIA
E...Viva o Povo Brasileiro (parafraseando Jo�o Ubaldo Ribeiro), que, com sua natural inclina��o a reverter a sisudez das regras institu�das passa por cima das conven��es e d� o seu toque de descontra��o em qualquer situa��o que se apresente. O secret�rio da ONU leva consigo em sua viagem de volta a Nova York nada mais que uma bandeira que ostenta de um lado o bras�o da Esta��o Primeira da Mangueira e do outro o s�mbolo da Organiza��o das Na��es Unidas.
E a passagem da tocha ol�mpica pelos bairros do Rio? Presentes, �dolos do esporte como Ronaldo, Pel�, Daiane, Guga, Zico, Pop�, Oscar, Bob Burnquist, cada um cumprindo galhardamente seu trecho no desfile, cujo acento bem brasileiro ocorre no momento em que Zico alimenta a tocha conduzida nada mais, nada menos pelo conhecido e festejado gari da Comlurb Renato Louren�o, o Renato Sorriso.
Faz parte, � da alma brasileira!
E,como estou hoje mais para relaxar das tens�es da vida comum, que tal uma piadinha para desfazer as teias que a gente vai juntando no peito pelo caminho afora?
Os Irrespons�veis
Um casal tinha dois filhos, um de 8 e outro de 10 anos, que eram uns verdadeiros capetas. Os pais sabiam que, se houvesse alguma travessura nas imedia��es, com certeza, eles estariam metidos. Certo dia, a m�e dos garotos ficou sabendo que o novo padre da cidade tinha tido bastante sucesso em disciplinar crian�as. Ent�o, ela pediu-lhe que falasse com os meninos. O padre concordou, mas optou por v�-los separadamente. A m�e mandou primeiro o filho mais novo. O padre tinha uma estatura bem avantajada, um homem alto e forte, com uma voz que mais parecia um trov�o. Assim que o filho mais novo chegou, o padre colocou-o sentado na sua pr�pria cadeira, no meio do altar da igreja e perguntou-lhe de forma bem austera e incisiva:
- Meu filho, ONDE EST� DEUS? O garoto arregalou os olhos e ficou de boca aberta, mudo, sem emitir nenhum som.
Ent�o, o padre repetiu a pergunta num tom ainda mais severo e alto:
- ONDE EST� DEUS? Mais uma vez, o garoto permaneceu de boca aberta, sem conseguir emitir nenhuma resposta.
A esta altura o padre levantou ainda mais a voz e, com o dedo em riste na dire��o do garoto, quase gritou:
- ONDE EST� DEUS? RESPONDA! O garoto saiu correndo da igreja diretamente para casa e trancou-se no quarto. O irm�o mais velho foi ao seu encontro e perguntou-lhe: - O que aconteceu? O irm�o mais novo, ainda tentando recuperar o f�lego, respondeu:
- Cara, desta vez estamos ferrados. Deus sumiu e acham que foi a gente!
OBS: Se estou cometendo um repeteco, perdoem-me. Meu ba� de piadas n�o � necessariamente abastecido. Recebi essa a� por e-mail de uma garota, minha amiguinha, que insiste em achar que o tempo n�o passou pra mim.
E... desculpem a conversa fiada...
publicado
por Magaly Magalhães às 12:51 AM
10.6.04
Salvador Dali Apparition du Visage de l�Aphrodite Cnide dans un paysage Oil painting
Eu, pensando... ou melhor, revendo conceitos, relembrando leituras.
Em sua forma��o, o indiv�duo, sob o impacto de tantas for�as interagindo em seu campo de a��o, p�ra e se faz a eterna indaga��o de quem precisa descobrir sua pr�pria natureza:
O que � o ser humano?
O homem � um ser amb�guo, m�ltiplo, indagativo, ansioso por conhecer-se, em busca das respostas �s angustiantes perguntas: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?
Suas caracter�sticas: Pluralidade e Ambig�idade.
� riqu�ssima a pluralidade de ser humano como � dolorosa a sua ambig�idade. O homem debate-se nessa teia complexa at� aprender a fazer a s�ntese. � o al�vio da dor que adquire, ent�o, o n�vel de aprendizado. Ao nascer, a crian�a chora: rea��o de dor � entrada de ar nos pulm�es. Para viver, � preciso chorar. � o homem come�ando no ber�o a lidar com a dor.(V�m da� as express�es: aprender com a dor, ter a dor como mestre.)
O homem tem como meta de vida a felicidade. Seu verdadeiro estado de felicidade � a s�bia percep��o de seus limites. E n�o h� que resignar-se com as pr�prias limita��es. A sabedoria est� em reconhec�-las, procurar lidar com elas da melhor maneira poss�vel, explorando suas demais aptid�es, respeitando as limita��es alheias. O homem precisa lembrar que vive em sociedade e que os valores de um grupo n�o s�o os mesmos valores de outro grupo. H� uma pluralidade muito grande de op��es e a atitude a ser adotada n�o pode ser outra: o respeito �s diferen�as individuais.
Essa velha ang�stia do homem leva-o a procurar respostas ora no sagrado, ora na ci�ncia, o que gera nele a capacidade de criar. E � nessa capacidade criadora que reside a finalidade do questionamento humano.
Em s�mula, o homem � isto: �nsia de conhecer-se, buscas, criatividade no processo de pensar-se.
Existe uma situa��o de perigo para o ser humano: a de entregar-se � in�rcia. N�o podemos esquecer que a paz vem da certeza de se ter tentado fazer algo.
O ser humano em si � lindo. � certo que temos nosso c�digo. � certo que ele anda com o discurso invertido, mas tamb�m � certo que temos capacidade para repens�-lo, modific�-lo.
Na realidade, n�o h� sociedade boa nem sociedade m�. H� a sociedade que estimula a agressividade e h� a sociedade que estimula a cordialidade. Melhor � a sociedade que estimula a toler�ncia. A atual sociedade � a mais intolerante que j� atuou no cen�rio mundial. No momento presente, podemos dizer que a for�a abarca a Terra. Fato �nico na Hist�ria.
Tudo, entretanto, � pass�vel de reestrutura��o. Pode demandar muito tempo, mas pode ocorrer uma remodela��o. O importante � que o homem continue a lutar por uma sociedade equilibrada e que n�o perca a capacidade de construir e de conquistar a verdadeira liberdade.
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Entrando em onda po�tica, o que tenho hoje para meus leitores?
O ESTATUTO DO HOMEM
Ato Institucional Permanente
Artigo I Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida, e que, de m�os dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as ter�as-feiras mais cinzentas, t�m direito a converter-se em manh�s de domingo.
Artigo III Fica decretado que, a partir deste instante, haver� girass�is em todas as janelas, que os girass�is ter�o direito a abrir-se dentro da sombra, e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperan�a.
Artigo IV Fica decretado que o homem n�o precisar� nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiar� no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do c�u. O homem confiar� no homem como um menino confia em outro menino.
Artigo V Fica permitido que o p�o de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que, sobretudo, tenha sempre o quente sabor da ternura. Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco.
Artigo VI Decreta-se que nada ser� obrigado nem proibido. Tudo ser� permitido, inclusive brincar com rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa beg�nia na lapela.
Artigo final Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual ser� suprimida dos dicion�rios e do p�ntano enganoso das bocas. A partir deste instante, a liberdade ser� algo vivo e transparente, como um fogo ou um rio, ou como semente do trigo, e a sua morada ser� sempre o cora��o do homem.
(JB, 06/07/98) Thiago de Mello
ORDEM DO DIA
N�o chegaremos ao livro, sem o leite e o p�o, nem chegaremos ao p�o sem a terra e sem o teto, nem chegaremos � terra sem liberdade e justi�a, oh! a indispens�vel coragem para essa luta.
Lutemos, pois, todos n�s, brancos, pretos e amarelos, que choramos e comemos, que crescemos e estudamos, que sofremos e constru�mos, como homens sem cor, todos n�s que precisamos do mesmo leite branco e do mesmo livro, e da mesma terra, e da mesma liberdade para viver.
Viver. Ou ao menos morrer, mas lutando.
J.G. de Ara�jo Jorge publicado
por Magaly Magalhães às 11:07 PM
6.6.04
Ilha Bela Aquarela por Dudi Maia Rosa
DEMOCRACIA
Melhor seria um nome mais adequado para o nosso de regime de governo. De democracia, s� tra�os aqui e ali, esgar�ados, quase irreconhec�veis. N�o sou a pessoa indicada para falar de pol�tica; n�o tenho conhecimento para isso. Entretanto, qual o leigo que n�o percebe a discrepante diferen�a de renda entre os indiv�duos que comp�em os diversos segmentos de nossa sociedade? Podemos falar de democracia num pa�s em que um indiv�duo sustenta-se com um aviltante sal�rio de R$ 240,00 enquanto h� pessoas contempladas com megasal�rios de 8, 9, at� 15, 16 mil reais (nem sempre pessoas produtivas!) ? Custa-me crer que homens inteligentes, competentes, sagazes, que comandam a na��o, n�o se sensibilizem diante de tamanha disparidade de ganhos. Nossa distribui��o de renda � das mais absurdas e desumanas. A Constitui��o existe para ser respeitada, sim, mas atitudes como a de a Justi�a espaldar-se na lei dos *direitos adquiridos*, contemplando exclusivamente a elite, est� al�m do aceit�vel ou toler�vel. Temos que enfrentar a necessidade da corre��o dessa discrep�ncia. Como? Os cientistas pol�ticos ter�o a� sua vez. J� ouvi falar em alguma coisa parecida com a seguinte meta: armar um planejamento, tal que, dentro de um determinado n�mero de anos, a massa trabalhadora ganhe uma m�dia ponderada deR$600,00 e a elite, uma m�dia ponderada de R$12.000,00.
N�o me refiro a este ou a qualquer governo em especial. Os erros v�m de longe, acumulam-se, perpetuam-se, muitas vezes estimulados por neglig�ncia, preocupa��o ego�stica de reelei��o, preval�ncia de interesses individuais, afrouxando as r�deas da �tica, produzindo esta absurda desigualdade social.
Para fugir um pouco dessas preocupa��es, vamos mergulhar no mundo da poesia?
M�OS DADAS
Carlos Drummond de Andrade
N�o serei o poeta de um mundo caduco. Tamb�m n�o cantarei o mundo futuro. Estou preso � vida e olho meus companheiros. Est�o taciturnos, mas nutrem grandes esperan�as. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente � t�o grande, n�o nos afastemos. N�o nos afastemos muito, vamos de m�os dadas.
N�o serei o cantor de uma mulher, de uma hist�ria, n�o direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, n�o distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, n�o fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo � a minha mat�ria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
(in Reuni�o,6�ed., Rio de Janeiro, J.Olympio,1974, p.55)
TERNURA
Vinicius de Morais
Eu te pe�o perd�o por te amar de repente Embora o meu amor seja uma breve can��o aos teus ouvidos. Das horas que passei � sombra de teus gestos Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos Das noites que vivi acalentado Pele gra�a indiz�vel dos teus passos eternamente fugindo Trago a do�ura dos que aceitam melancolicamente. E posso te dizer que o grande afeto que te deixo N�o traz o exaspero das l�grimas nem a fascina��o das promessas Nem as misteriosas palavras dos v�us da alma... � um sossego, uma un��o, um transbordamento de car�cias E s� te pede que te repouses quieta, muito quieta E deixes que as m�os c�lidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar est�tico da aurora.
(in Antologia Po�tica, 13� ed., Rio de janeiro, J.Olyimpio, 1976, p.76)