Divulgar idéias próprias, combater o discurso invertido corrente, aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
 

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22.5.06
 


On the terrace de Auguste Renoir
www.wholesaleoilpainting.com


Achei esta crônica de Cecília Meireles tão atual e necessária que resolvi transcrevê-la aqui para vocês:

A IMAGINAÇÃO MARAVILHOSA DA INFÂNCIA

É porque nós, desgraçadamente, já andamos esquecidos; mas quando fomos pequenos, tivemos também essa maravilhosa imaginação com que qualquer criança deslumbra o mais requintado poeta.
Nosso mundo foi feito de coisas prodigiosas: os milagres das fadas, os encantos dos bruxos, toda a mágica das histórias mais assombrosas sempre foi para nós muito verossímil, porque tínhamos em nós uma força misteriosa geradora das mais extraordinárias possibilidades.
Talvez porque convivíamos mais diretamente com a natureza, e a natureza é por si mesma assombrosa. Depois de ver uma borboleta voar, uma flor desenrolar-se do botão, uma semente transformar-se em planta, um passarinho sair do ovo e mais tarde cantar, uma estrela revelar-se, depois de feita a noite, um campo encher-se de pirilampos, as nuvens crescerem, unirem-se, viajarem, desfazerem-se, com que é que se vai admirar uma criança?
E éramos tão senhores da vida, com todos os seus cenários e as suas aparências, acreditávamos tanto na eternidade profunda das coisas, malgrado as suas superficiais e parciais extinções, que a morte era para nós qualquer coisa enganosa, que os adultos não tinham ainda encarado bem, que ainda não conheciam de perto e só por isso, com certeza, não sabiam ainda vencer...
Aquilo que se chamava educação, aquela acomodação ao ponto de vista vulgar, comum, estandardizado do adulto de cabeça preguiçosa, que resolveu possuir verdades feitas porque dá muito trabalho criar outras mais belas e, por isso mesmo, mais verdadeira aquele processo de sufocação do nosso espírito centro de um limite de anos, e com um fim antecipadamente disposto, deu em resultado esta humanidade que somos, bem diferente da que poderíamos ser, se nos continuássemos a desenvolver com aquela vocação para o infinito que foi a característica da nossa infância.
No entanto, a ciência, a realidade mais friamente positiva que existe, é cada vez mais uma espécie de comprovação experimental das adivinhações espontâneas da infância.
Cada vez mais parece que aquela frase: *A vida é um pensamento da juventude realizado na idade madura.* precisa começar a ser enunciada assim: *A vida é um sonho da infância transferido para mais tarde...*
Porque a infância traz encerradas em si todas as condições superiores do destino humano. Ela mesma não sabe disso: porque a sabedoria tem qualquer coisa de inconsciente. Mas vivem dentro dela todas as capacidades da vida, por mais difíceis, inacreditáveis, longínquas e indefiníveis que sejam.
As crianças têm sempre uma auréola para dilatar mais a órbita de qualquer realidade. Às vezes perdem-se nessa auréola. E dizem-lhes então que estão mentindo... Ah! Esses adultos banais...
Não sabem que elas dominam todos os impossíveis... Que são, mais ou menos, como aquele chinês a quem quiseram deslumbrar, um dia, mostrando um aeroplano, e que se limitou a dar de ombros, dizendo: *Que tem isso de extraordinário? É um papagaio com um homem dentro...*

Rio de Janeiro, Diário de Notícias, 15 de julho de 1931. (Colhida em *Cecília Meireles Crônicas de Educação*)


Como precisamos dessas vozes que não envelhecem nunca! Como nosso mundo de hoje deveria dar ouvidos a proposições tão oportunas e urgentes!




Depois do blá-blá,blá intenso sobre o livro/filme Código da Vinci (li o livro, vi o filme; abstenho-me de criticá-los porque seria uma opinião de leigo sem maior importância), vejo-me curiosa agora pela façanha do publicitário Leandro Muller , autor do romance *O Código do Aleijadinho*, , Editora Garamond, pelo selo Espaço e tempo, tendo o livro chegado às livrarias na semana passada, em plena efervescência originada pelo lançamento do filme de Ron Howard sobre o romance de Dan Brown.
Aguardemos o pronunciamento da crítica especializada. Mas não deixem de ler AQUI . Leiam AQUI TAMBÉM.





Atividade:

a)Que poema começa com estes versos:

*E em redor da mesa, nós, viventes,
comíamos, e falávamos, naquela noite estrangeira,*

b)Qual o autor?

Prêmio: Um poema de seu poeta preferido.

Bye, bye!

Espero retorno (por e-mail) relativo ao item ATIVIDADE, ok?

publicado por Magaly Magalhães às 5:43 PM
13.5.06
 
Estátua de Dante em Nova York

Dante no exílio

Todos nós sabemos que o ponto alto da obra de Dante é o poema alegórico de 14.233 versos, em tercetos endecassílabos, que compõem a Divina Comédia, exaustivamente estudada, interpretada, traduzida sob variadas óticas. Desta obra temos a edição integral traduzida por Cristiano Martins (1976), como contamos com a tradução da Lírica por Jorge Wanderley (1996). Esta deixa entrever Dante em seu período de formação enquanto A Divina Comédia é a obra da maturidade do grande poeta florentino.
Na Lírica, os poemas que compõem Vita Nuova são importantes por conterem *em germe as imagens, os símbolos e toda a mítica dantesca que se consumaria na sua obra máxima, a Commedia*. Trata do amor de Dante por Beatriz no belo cenário de Florença.

Deixo com vocês o Soneto I em que *Dante encontra (pela segunda vez) Beatriz e tem um sonho pressago; e o Soneto II em que ele, *numa igreja, olhava para Beatrz, mas entre os dois havia uma dama que o poeta usará como escudo, deixando que atribuam a ela o amor que tem na realidade por Beatriz; a dama se vai da cidade, mas ele segue com a farsa*.

Soneto I

A toda alma gentil presa de amor
em cuja direção parte este escrito,
peço resposta sobre o que vai dito
e saúdo em Amor, seu grão-Senhor.
Finda a terceira hora antes do alvor
quando os astros mais brilham no infinito,
eis me aparece Amor trazendo inscrito
em si um ar que eu lembro com horror.
Alegre parecia, mas levando
meu coração na mão; no braço eu via
a minha dama em trapos ressonando
e ele a acordava e o coração queimando
humilde e com receio ela comia.
Depois Amor partia, soluçando.


Soneto II

Ó vós que na estrada do Amor passais
aguardai e reparai
se há dor alguma, como a minha, grave
e peço que a ouvir vos disponhais; depois verificai
se não sou do sofrer albergue e chave.
Deu-me Amor, que em nobreza se compraz,
e não por meus reais
valores, uma vida tão suave,
que muito bem ouvi dizerem atrás:
*Meu Deus, que fez de mais
este que vai sem nada que o agrave?*
Mas agora perdi toda a confiança
que me vinha do amor, o meu tesouro,
e na pobreza moro
que até rimando sinto insegurança.
Assim, tal como os outros, me demoro
escondendo a vergonha que me alcança:
por fora eu sou a dança
mas no fundo do peito me deploro.


Ganhei o livro Dante Lírica de minha filha Elisa, no Natal passado. A tradução de Jorge Wanderley impressiona o leitor de mais recursos (que não é o meu caso). Devagarinho, de esforço em esforço, consegui sentir o valor do que tinha nas mãos. Valeu o lance de paciência. Valeu sua iniciativa, figliola amada (posso, Meguitcha, entrar furtivamente em seu universo lingüístico?)


E deu para perceber o que o nosso grande poeta Murilo Mendes escreveu sobre a obra de Dante Alighieri:

*Dante viu, retroviu, previu, introviu, postviu, cosmoviu*.


São ao todo 25 sonetos, 1 balada e 5 canções.

Se quiserem mais, sinal verde. Disposição não me falta, ok?

publicado por Magaly Magalhães às 10:01 AM
2.5.06
 
AS FOLHAS DA ÁRVORE DE BUDA


Arte digital: FLÁVIA


Numa situação limite, nos idos de 99:


EU LHE PEÇO

Fique comigo
como se o
tempo da gente
não fosse acabar

Agarre-se a mim
como se a
eternidade
pudesse esperar

Não vá sem mim
eu lhe peço
vamos juntinhos
também para lá


Na ocasião, meus dias eram de tormento e incerteza :


HOJE

Já não sonho,
minha luz ofuscou-se.
Dia claro,
é noite em mim.
Tensões me cingem,
me constringem.
E me restringem
a um ponto baço, lasso
bagaço sem graça
de uma vida
que poderia ter sido,
mas não foi.


Meditei muito na ocasião, sobre o estado de espírito em que me encontrava e pensei melhor:


AMANHÃ...

*... será outro dia ...*

Clichê, sim,
mas com conteúdo estimulante,
capaz de identificar
fragilidades, injustiças, incoerências.
O amanhã é sempre novo,
é a esperança
para aquele que
viveu, mas não se deu,
que amou sem se doar,
que dividiu, mas não somou
e quer tentar mais,
quer aprender a ser GENTE


Hoje, sete anos depois, veio o irremediável: a perda palpável, suas dores, as cabíveis considerações em torno, a infalível entrega à dor, a lassidão subseqüente, e finalmente, a reação por razões de foro íntimo humanas e religiosas.

O que lhes posso oferecer em matéria de reflexão:



ALVITRE

Não sonhe, viva
Não deseje, vá buscar
O caminho é longo? Encurte-o
O tempo é pouco? Expanda-o
Os recursos são parcos? Crie-os
Não esmoreça, não duvide, não desista!
A vontade é seu único motor
A persistência, sua única arma
A determinação, sua única força
A fé em Deus, toda a sua razão de ser
e de superar-se...


OBS:
Uma promessa que vou procurar cumprir com todo cuidado:

Isto é o introito de uma volta aos posts. Lavada a alma, juro que procurarei ser a companheira normal que tenho sido até agora. Não muito assídua no começo, mas esforçando-me por atingir um ritmo razoável.

Aproveito para reiterar meu profundo sentimento de respeito a todos os que vieram em meu apoio e têm contribuído para a gradativa restauração da minha paz íntima.



************************************************************

Nota oportuna:

No dia 2 de maio de 1519, morria o grande gênio do Renascimento, Leonardo da Vinci, cujo féretro foi seguido por sessenta mendigos de acordo com seu desejo expresso.

publicado por Magaly Magalhães às 10:37 PM