Divulgar
idéias próprias, combater o discurso invertido corrente,
aprender a dividir, expor sentimentos,
trazer poesia ao dia-a-dia, eis a abrangente ação deste
veículo de idéias. De tudo, um pouco - minha meta.
On the terrace de Auguste Renoir www.wholesaleoilpainting.com
Achei esta cr�nica de Cec�lia Meireles t�o atual e necess�ria que resolvi transcrev�-la aqui para voc�s:
A IMAGINA��O MARAVILHOSA DA INF�NCIA
� porque n�s, desgra�adamente, j� andamos esquecidos; mas quando fomos pequenos, tivemos tamb�m essa maravilhosa imagina��o com que qualquer crian�a deslumbra o mais requintado poeta. Nosso mundo foi feito de coisas prodigiosas: os milagres das fadas, os encantos dos bruxos, toda a m�gica das hist�rias mais assombrosas sempre foi para n�s muito veross�mil, porque t�nhamos em n�s uma for�a misteriosa geradora das mais extraordin�rias possibilidades. Talvez porque conviv�amos mais diretamente com a natureza, e a natureza � por si mesma assombrosa. Depois de ver uma borboleta voar, uma flor desenrolar-se do bot�o, uma semente transformar-se em planta, um passarinho sair do ovo e mais tarde cantar, uma estrela revelar-se, depois de feita a noite, um campo encher-se de pirilampos, as nuvens crescerem, unirem-se, viajarem, desfazerem-se, com que � que se vai admirar uma crian�a? E �ramos t�o senhores da vida, com todos os seus cen�rios e as suas apar�ncias, acredit�vamos tanto na eternidade profunda das coisas, malgrado as suas superficiais e parciais extin��es, que a morte era para n�s qualquer coisa enganosa, que os adultos n�o tinham ainda encarado bem, que ainda n�o conheciam de perto e s� por isso, com certeza, n�o sabiam ainda vencer... Aquilo que se chamava educa��o, aquela acomoda��o ao ponto de vista vulgar, comum, estandardizado do adulto de cabe�a pregui�osa, que resolveu possuir verdades feitas porque d� muito trabalho criar outras mais belas e, por isso mesmo, mais verdadeira aquele processo de sufoca��o do nosso esp�rito centro de um limite de anos, e com um fim antecipadamente disposto, deu em resultado esta humanidade que somos, bem diferente da que poder�amos ser, se nos continu�ssemos a desenvolver com aquela voca��o para o infinito que foi a caracter�stica da nossa inf�ncia. No entanto, a ci�ncia, a realidade mais friamente positiva que existe, � cada vez mais uma esp�cie de comprova��o experimental das adivinha��es espont�neas da inf�ncia. Cada vez mais parece que aquela frase: *A vida � um pensamento da juventude realizado na idade madura.* precisa come�ar a ser enunciada assim: *A vida � um sonho da inf�ncia transferido para mais tarde...* Porque a inf�ncia traz encerradas em si todas as condi��es superiores do destino humano. Ela mesma n�o sabe disso: porque a sabedoria tem qualquer coisa de inconsciente. Mas vivem dentro dela todas as capacidades da vida, por mais dif�ceis, inacredit�veis, long�nquas e indefin�veis que sejam. As crian�as t�m sempre uma aur�ola para dilatar mais a �rbita de qualquer realidade. �s vezes perdem-se nessa aur�ola. E dizem-lhes ent�o que est�o mentindo... Ah! Esses adultos banais... N�o sabem que elas dominam todos os imposs�veis... Que s�o, mais ou menos, como aquele chin�s a quem quiseram deslumbrar, um dia, mostrando um aeroplano, e que se limitou a dar de ombros, dizendo: *Que tem isso de extraordin�rio? � um papagaio com um homem dentro...*
Rio de Janeiro, Di�rio de Not�cias, 15 de julho de 1931. (Colhida em *Cec�lia Meireles Cr�nicas de Educa��o*)
Como precisamos dessas vozes que n�o envelhecem nunca! Como nosso mundo de hoje deveria dar ouvidos a proposi��es t�o oportunas e urgentes!
Depois do bl�-bl�,bl� intenso sobre o livro/filme C�digo da Vinci (li o livro, vi o filme; abstenho-me de critic�-los porque seria uma opini�o de leigo sem maior import�ncia), vejo-me curiosa agora pela fa�anha do publicit�rio Leandro Muller , autor do romance *O C�digo do Aleijadinho*, , Editora Garamond, pelo selo Espa�o e tempo, tendo o livro chegado �s livrarias na semana passada, em plena efervesc�ncia originada pelo lan�amento do filme de Ron Howard sobre o romance de Dan Brown. Aguardemos o pronunciamento da cr�tica especializada. Mas n�o deixem de ler AQUI . Leiam AQUI TAMB�M.
Atividade:
a)Que poema come�a com estes versos:
*E em redor da mesa, n�s, viventes, com�amos, e fal�vamos, naquela noite estrangeira,*
b)Qual o autor?
Pr�mio: Um poema de seu poeta preferido.
Bye, bye!
Espero retorno (por e-mail) relativo ao item ATIVIDADE, ok?
publicado
por Magaly Magalhães às 5:43 PM
13.5.06 Est�tua de Dante em Nova York
Dante no ex�lio
Todos n�s sabemos que o ponto alto da obra de Dante � o poema aleg�rico de 14.233 versos, em tercetos endecass�labos, que comp�em a Divina Com�dia, exaustivamente estudada, interpretada, traduzida sob variadas �ticas. Desta obra temos a edi��o integral traduzida por Cristiano Martins (1976), como contamos com a tradu��o da L�rica por Jorge Wanderley (1996). Esta deixa entrever Dante em seu per�odo de forma��o enquanto A Divina Com�dia � a obra da maturidade do grande poeta florentino. Na L�rica, os poemas que comp�em Vita Nuova s�o importantes por conterem *em germe as imagens, os s�mbolos e toda a m�tica dantesca que se consumaria na sua obra m�xima, a Commedia*. Trata do amor de Dante por Beatriz no belo cen�rio de Floren�a.
Deixo com voc�s o Soneto I em que *Dante encontra (pela segunda vez) Beatriz e tem um sonho pressago; e o Soneto II em que ele, *numa igreja, olhava para Beatrz, mas entre os dois havia uma dama que o poeta usar� como escudo, deixando que atribuam a ela o amor que tem na realidade por Beatriz; a dama se vai da cidade, mas ele segue com a farsa*.
Soneto I
A toda alma gentil presa de amor em cuja dire��o parte este escrito, pe�o resposta sobre o que vai dito e sa�do em Amor, seu gr�o-Senhor. Finda a terceira hora antes do alvor quando os astros mais brilham no infinito, eis me aparece Amor trazendo inscrito em si um ar que eu lembro com horror. Alegre parecia, mas levando meu cora��o na m�o; no bra�o eu via a minha dama em trapos ressonando e ele a acordava e o cora��o queimando humilde e com receio ela comia. Depois Amor partia, solu�ando.
Soneto II
� v�s que na estrada do Amor passais aguardai e reparai se h� dor alguma, como a minha, grave e pe�o que a ouvir vos disponhais; depois verificai se n�o sou do sofrer albergue e chave. Deu-me Amor, que em nobreza se compraz, e n�o por meus reais valores, uma vida t�o suave, que muito bem ouvi dizerem atr�s: *Meu Deus, que fez de mais este que vai sem nada que o agrave?* Mas agora perdi toda a confian�a que me vinha do amor, o meu tesouro, e na pobreza moro que at� rimando sinto inseguran�a. Assim, tal como os outros, me demoro escondendo a vergonha que me alcan�a: por fora eu sou a dan�a mas no fundo do peito me deploro.
Ganhei o livro Dante L�rica de minha filha Elisa, no Natal passado. A tradu��o de Jorge Wanderley impressiona o leitor de mais recursos (que n�o � o meu caso). Devagarinho, de esfor�o em esfor�o, consegui sentir o valor do que tinha nas m�os. Valeu o lance de paci�ncia. Valeu sua iniciativa, figliola amada (posso, Meguitcha, entrar furtivamente em seu universo ling��stico?)
E deu para perceber o que o nosso grande poeta Murilo Mendes escreveu sobre a obra de Dante Alighieri:
Se quiserem mais, sinal verde. Disposi��o n�o me falta, ok?
publicado
por Magaly Magalhães às 10:01 AM
2.5.06
AS FOLHAS DA �RVORE DE BUDA
Arte digital: FL�VIA
Numa situa��o limite, nos idos de 99:
EU LHE PE�O
Fique comigo como se o tempo da gente n�o fosse acabar
Agarre-se a mim como se a eternidade pudesse esperar
N�o v� sem mim eu lhe pe�o vamos juntinhos tamb�m para l�
Na ocasi�o, meus dias eram de tormento e incerteza :
HOJE
J� n�o sonho, minha luz ofuscou-se. Dia claro, � noite em mim. Tens�es me cingem, me constringem. E me restringem a um ponto ba�o, lasso baga�o sem gra�a de uma vida que poderia ter sido, mas n�o foi.
Meditei muito na ocasi�o, sobre o estado de esp�rito em que me encontrava e pensei melhor:
AMANH�...
*... ser� outro dia ...*
Clich�, sim, mas com conte�do estimulante, capaz de identificar fragilidades, injusti�as, incoer�ncias. O amanh� � sempre novo, � a esperan�a para aquele que viveu, mas n�o se deu, que amou sem se doar, que dividiu, mas n�o somou e quer tentar mais, quer aprender a ser GENTE
Hoje, sete anos depois, veio o irremedi�vel: a perda palp�vel, suas dores, as cab�veis considera��es em torno, a infal�vel entrega � dor, a lassid�o subseq�ente, e finalmente, a rea��o por raz�es de foro �ntimo humanas e religiosas.
O que lhes posso oferecer em mat�ria de reflex�o:
ALVITRE
N�o sonhe, viva N�o deseje, v� buscar O caminho � longo? Encurte-o O tempo � pouco? Expanda-o Os recursos s�o parcos? Crie-os N�o esmore�a, n�o duvide, n�o desista! A vontade � seu �nico motor A persist�ncia, sua �nica arma A determina��o, sua �nica for�a A f� em Deus, toda a sua raz�o de ser e de superar-se...
OBS: Uma promessa que vou procurar cumprir com todo cuidado:
Isto � o introito de uma volta aos posts. Lavada a alma, juro que procurarei ser a companheira normal que tenho sido at� agora. N�o muito ass�dua no come�o, mas esfor�ando-me por atingir um ritmo razo�vel.
Aproveito para reiterar meu profundo sentimento de respeito a todos os que vieram em meu apoio e t�m contribu�do para a gradativa restaura��o da minha paz �ntima.
No dia 2 de maio de 1519, morria o grande g�nio do Renascimento, Leonardo da Vinci, cujo f�retro foi seguido por sessenta mendigos de acordo com seu desejo expresso.
publicado
por Magaly Magalhães às 10:37 PM